SÉTIMA CARTA; À IGREJA DE
LAODICÉIA
14. “E ao anjo da igreja que está em
Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio
da criação de Deus”.
I. “...Ao anjo da Igreja”. O leitor deve observar que em
todas as igrejas, a mensagem inicia-se com a expressão: “...ao anjo da igreja”,
e concomitantemente, já estamos familiarizados com esses seres denominados de
“anjos” (mensageiros), que no contexto divino são chamados de “estrelas” (cf.
1.20; 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14). Podemos deduzir daquilo que é depreendido,
de (Cl 4.12, 13), onde lemos: “Saúda-vos Epafras, que é dos vossos, servos de
Cristo, combatendo sempre por vós em oração, para que vos conserveis firmes,
perfeitos e consumados em toda a vontade de Deus. Pois eu lhe dou testemunho de
que tem grande zelo por vós, e pelos que estão em Laodicéia...”. Que Epafras,
tenha sido pastor nesta igreja, é bem evidente, mas, não podemos afirmar que
trinta anos depois, o mesmo ainda se encontrava ali.
1. LAODICÉIA. O nome significa
“Laodice” (em alusão a Laodice esposa de Antíoco II). Outros, porém, vêm nessa
palavra grega o significado de “poko”, “juízo”, ou “costume”. Situação Geográfica: Laodicéia era uma cidade da província
romana da Ásia Menor. A cidade recebeu este nome em alusão à esposa de Antíoco
II (Theos), que tinha o nome de Laodice. “Já que Laodice era nome feminino, nos
tempos do Novo Testamento, seis cidades receberam tal nome, no período
helenista. Por essa razão, a Laodicéia do presente texto, era chamada de
“Laodicéia do Lico”, isto é, conforme asseverava Estrabão; 578”, O trecho de Colossenses 4.13-16 mostra-nos
que, nos tempos de Paulo (talvez em 64 d. C.), Laodicéia já contava com uma
igreja organizada e próspera.
2. Isto diz o Amém. Como já ficou
demonstrado em comentário anterior a este, o Senhor Jesus, quando se apresenta
a cada igreja, primeira faz uma pequena introdução, depois prossegue. A palavra
“Amém” veio sem tradução do hebraico para o grego e do grego para o português.
Seu significa original traz a idéia de cuidar ou de edificar. O sentido
derivado, que chegou até nós, traz a idéia de alguma coisa que é afirmada, ou
confirmada positivamente; este é o seu sentido original. O termo é aplicado
aqui à pessoa de Cristo, por ser Ele o sim de Deus em todas as promessas (cf. 2
Co 1.19-20). Neste livro do Apocalipse, o termo “Amém” envolve quatro usos
distintos:
(a) O “amém” inicial, em que as
palavras de quem fala são tomadas como palavras daquele que profere o “amém”
(cf. Ap 5.14; 7.12; 19.4 e 22.20). Nas páginas do Antigo Testamento há
instâncias desse uso em 1Rs 1.26; Jr 11.5 e 28.6, e ss.
(b) O “Amém” isolado, em que
qualquer sentença suplementar fora eliminado. Talvez isso é o que se tem em Ap
5.14, ver ainda tal uso, igualmente, em Dt 27.15, 26 e Ne 5.13, e ss.
(c) O “Amém” final, proferido
pelo próprio orador (ver Ap 1.6, 7) isso também se acha no Antigo Testamento,
somente nas quatro divisões dos salmos, nos subtítulos, em Sl 41.14; 72.19;
78.52 e 106.48, e ss.
(d) O “Amém” personificado, isto
é, Cristo (Ap 3.14), que talvez siga o mesmo, segundo se diz, fraseado de (Is
65.16), “o Deus do Amém” ou “o Deus da Verdade”, conforme algumas traduções
traduzem aquela passagem de Isaías.
15. “Eu sei as tuas obras, que nem és
frio nem quente: Oxalá foras frio ou quente!”.
I. “...nem és frio nem quente”. “Somos informados que Laodicéia
não tinha suprimento de água própria, mas que tinha de ser servida por um
aqueduto. Nesse caso, a água chegava morna. Os laodicenses se assemelhavam à
sua água. O simbolismo fala sobre a indiferença “religiosa”, sobre a
superficialidade, sobre a falta de resolução” (cf. Hb 8.5 e 9.23).
1. Três coisas marcantes devem
ser analisadas na carta a igreja de Laodicéia:
(a) O “tu és” da mornidão; (b) O
“dizes” da autocomplacência (a igreja não tinha paixão nem emoção) e (c) O “és”
da condenação infalível e terrível do Senhor. O Apóstolo Paulo, escrevendo aos
colossenses cerca de 32 anos atrás, disse: “quero se saibais quão grande
combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia...” Cl 2.1a. Ele observou
que o quente ali estava ficando “morno”. Cerca de trinta e dois anos mais
tarde, isso se concretizou. A mensagem à igreja de Laodicéia é a última às sete
igrejas da Ásia Menor. Das sete cartas, é a mais triste, sendo o contrário da
carta a Filadélfia. Enquanto Filadélfia não tem coisa alguma de censura, esta
não tem qualquer coisa de aprovação. Laodicéia era totalmente desagradável ao
Senhor, e isso não por causa de seus pecados (tais como os repreendidos em
Pérgamo e Tiatira), mas por causa da sua apatia, seu indiferentismo. Deus quer
que seus filhos sejam “fervorosos no espírito” (cf. Rm 12.11).
16. “Assim, porque és morno, e não és
frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”.
I. “...és morno”. Em toda a extensão da Bíblia, a
palavra “morno” é usada somente aqui. Três temperaturas são mencionadas neste
versículo: “Frio”, “Quente” e “Morno”. Mas intermediária foi considerado por
Jesus Cristo a pior de todas elas, pois expressa apatia espiritual”. Jesus
predisse a primeira em (Mt 24.12); Paulo falou da terceira em (Rm 12.11), ver
ainda (Sl 41.1 e At 18.25).
1. Vomitar-te-ei da minha boca. O
estado de mornidão na criatura que aceita a Cristo e não o segue com sinceridade,
é muito triste sob vários aspectos: (a) Fica “coxeando entre dois
pensamentos...” (1Rs 18.21), à semelhança da “onda do mar”. Ver Tg 1.6; (b) “O
seu coração está dividido...”. Ver Os 10.2a; (c) Ele serve ao Senhor: “...porém
não com o coração inteiro”. Ver 2 Cr 25.2b; (d) “É um bolo que não foi virado”.
Ver Os 7.8b. São eles, em nossos dias, os que querem servir a Deus e as
riquezas (Mt 6.24), e por cuja razão ficam pendurados “entre o céu e a terra”
como Absalão, o jovem ambicioso (cf. 2Sm 18.9). O resultado é ouvir do Senhor:
“Vomitar-te-ei da minha boca”. O termo “vomitar” no grego é “emeo”, significa
também “cuspir”. Desse termo é que deriva o vocábulo moderno: “emético”, um
agente que causa vômito”. O organismo humano, não suporta substância morna; o
Filho de Deus também não suportará crentes rotulados; só os que forem fiéis
(cf. Hb 6.4-8). Laodicéia em suma representa a igreja “morna” que Jesus
“vomitará” no dia do arrebatamento. (Como contexto demonstrativo: Mt 25.10-12).
17. “Como dizes: Rico sou, e estou
enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e
miserável, e pobre, e cego, e nu”.
I. “...Rico sou”. O poder absoluto corrompe! (na
verdade o poder não corrompe, revela) Isto pode ser analisado tanto no campo
secular como espiritual. Há criaturas que não se deixam mais admoestar; e vão a
perdição (cf. Ec 4.13). A experiência do servo de Deus deve está aquém da
direção divina, pois sem ela jamais atingiremos o alvo (ver. Jr 9.1-14). O
pastor de Laodicéia dizia consigo mesmo (à semelhança do fariseu): “Rico sou”
(Cf. Lc 18.11 e Ap 3.17).
1. Estou enriquecido. O orgulho
cegou-lhe os olhos da alma. Isso serve de advertência para todos: o orgulho é
pecado (Pv 21.4); mas dificilmente existe algo mais importante para o indivíduo
carnal. Consideremos os pontos seguintes: (a) O orgulho é odioso para Cristo.
Pv 8.13; (b) Origina-se na justiça própria. Lc 18.11; (c) Deriva da
inexperiência espiritual. 1Tm 3.6; (d) Contamina o homem. Mt 7.20, 22; (e)
Endurece a mente. Dn 5.20; (f) Impede a inquirição espiritual. Sl 10.4; (g) É uma
das grandes características do diabo. 1 Tm 3.6, e também dos ímpios. Rm 1.30;
(h) Impede o aprimoramento espiritual. Pv 26.12; (i) Os orgulhosos
eventualmente serão humilhados por Deus. Is 2.12; (j) O orgulho espiritual,
segundo Paulo tornar-se-á muito comum nos últimos dias (2Tm 3.2). O anjo dessa
igreja, tinha todas essas características em grua supremo.
18. “Aconselho-te que de mim compres
ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te
vistas, e não apareças a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com
colírio, para que vejas”.
I. “...unjas os teus olhos”. Transcrevemos aqui a oração feita
por um justo para que Deus guardasse seus olhos da cegueira espiritual: “Põe
colírio nos meus olhos, Senhor (Ap 3.18). Eles são maus; e porque são maus,
expõem-me o corpo a trevas mui perigosas (Mt 6.23). Ajuda-me, ó Deus puro e
santo, a erguê-los para Cristo Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12.2); a
pô-los na brancura virginal dos lírios (Mt 6.28); a elevá-los para os montes e
depois olhar para o alto donde vem socorro (Sl 121.1). Não quero apenas
ouvir-te a voz, Senhor, mas verte-te (Jó 42.5). E como te verei com estes
olhos? Aponta-me o Siloé (Jo 9.7), em cujas águas possa remover o lodo
restaurador dos meus olhos enfermos. Porque hei de prender, apavorado, meus
olhos às forças desta vida, se, fitando o Senhor, possa caminhar sobre ondas
revoltas sem perigo de naufragar (Mt 14.29). Que consolo há em saber que os
teus olhos repousam sobre os justos (1 Pd 3.12)”. Se o pastor de Laodicéia
tivesse feito essa oração, há muito que se teria arrependido. É sabido, segundo
alguns historiadores que, em Laodicéia havia uma Escola de Medicina que
fabricava um pó oftálmico. Mas a “terra Frigia” (cinza da Frigia?) não curava a
cegueira espiritual da Igreja.
19. “Eu repreendo e castigo a todos
quantos amo: Sê pois zeloso, e arrepende-te”.
I. “...arrepende-te”. Deus exorta através de Jesus “a
todos os homens, e em todo o lugar que se arrependam; Porquanto tem determinado
um dia que com justiça há de julgar o mundo...” (At 17.30a). Sobre o
“arrependimento”, o Novo Testamento usa o termo grego “metanoia” por sessenta
vezes. Essa palavra tem diversos significados e diversas aplicações, sendo,
porém, seu sentido primário: “uma mudança de parecer ou pensamento” para com o
pecado e para com a vontade de Deus. O “arrependimento” é o primeiro aspecto da
experiência inicial da salvação experimentada pelo crente, experiência essa que
é chamada de conversão. A conversão autêntica é uma parte essencial e a prova
da regeneração. A regeneração é a obra de Deus no íntimo e a conversão é a
exteriorização, da salvação, por parte do homem, através do arrependimento e da
fé. Pedleton dar a idéia de que a palavra: “arrependimento” e a tradução que
tem, no Novo Testamento, abrange também o sentido primário de “reflexão
posterior”, e, com sentido secundário, “mudança de pensamento”. No presente
versículo a exortação de Cristo, não é dirigida àqueles que estão sem salvação,
mas aos que professam segui-lo, e são tidos como pertencentes a Ele. Jesus não
lhes diz “arrepende-te e sê zeloso. E sim “sê”, pois, zeloso e arrepende-te”.
Isto porque até diante de si próprios passavam por se terem arrependidos.
1. Eu repreendo e castigo.
(Contexto reflexivo). “A aplicação da disciplina pode ser em forma de
advertência pessoal (Mt 18.15); visitação acompanhada (1Co 4.19-21);
advertência pública (1Tm 5.20); comunicação escrita (2Co 7.8-10); exortação
pessoal (Gl 6.1); suspensão (2Ts 3.14, 15; Tt 3.10); exclusão do rol de
membros. Mt 12.17b”.
20. “Eis que estou à porta, e bato:
se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele
cearei, e ele comigo”.
I. “...Eis que estou a porta, e
bato”. A porta à qual Cristo bate é a porta da vida do
indivíduo, da igreja, ou da comunidade.
1. “A famosa pintura de HOLMAN HUNT, em que Cristo aparece
diante da porta, a bate, não mostra a maçaneta do lado de fora. Quando Sir Noel
Paton pintou o famoso quadro representando o Rei coroado de espinho batendo à
porta, foi censurado por que se esquecera de incluir a maçaneta na porta. Mas o
célebre pintou de propósito omitira a maçaneta. É que só pode ser aberta pelo
lado de dentro. Um homem conhecido na cidade, levou, certa feita, seu filho
pequeno, para ver esse quadro. O menino ficou ali pensando, por alguns
momentos, e então perguntou: “Porque não abrem a porta?”. O pai respondeu que
não podiam ouvi-lo batendo. O menino considerou a resposta por uns momentos mas
não ficou satisfeito com a mesma. “Não”, disse o garoto? “é que estão ocupados
no quartinho dos fundos, fazendo outras coisas, e nem sabem que Jesus está
batendo à porta”. Nesta resposta há grande discernimento! Os crentes de Laodicéia
viviam atarefados com seu comércio, com seus banquetes sociais, com suas
riquezas introspectivas, e nem se quer ouviram Jesus bater e falar. O bater de
Cristo, na vida, se verifica de muitas maneiras: no testemunho tranqüilo da
oração, no sermão do pregador, na lição da escola dominical, na leitura da
Palavra de Deus, mediante alguns tragédia, enfermidade, mediante abalo,
mediante a razão, mediante a vitória, mediante a perda, mediante a alegria,
mediante a felicidade, mediante a dor, mediante a morte – a última e
contundente maneira de Deus falar! (cf. Hb 1.1).
21. “Ao que vencer lhe concederei que
se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai
no seu trono”.
I. “...no meu trono”. Até escritores pagãos e
helenistas focalizaram essa idéia em seus escritos. O livro de I Enoque conta
com certo número de referências similares a esta em foco. O Eleito, o Messias,
assentar-se-á em seu trono de Glória no porvir. Isso também pode ser comparado
aos trechos de (Cl 3.1; Hb 1.8; ver: Fl 2.9-11: Cristo está entronizado). E nas
passagens de (Mt 19.28; 25.31 e Lc 22.29) vê-se que Cristo será entronizado por
sua “Parousia” ou segunda vinda. As Escrituras nos dão entender que,
presentemente, Jesus não se encontra assentado no seu trono. Passagens como (Ap
3.21 e 12.5), reafirmam essa tese: “...seu filho (Jesus) foi arrebatado para
Deus e para o seu trono”. Por isso, essa promessa de Jesus, é escatológica: “Ao
que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono (de Jesus); assim
como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono (de Deus)”. O trono de
Cristo é o trono de seu Pai, Davi, durante o Milênio, em Jerusalém, Ele ocupará
este trono. (2 Sm 7.12, 13; Lc 1.32; At 15.14-18). Cristo não está atualmente
nesse trono, mas à destra, segundo se diz, do Pai,no trono no céu, como o
Grande Sumo Sacerdote de nossa confissão (cf. Mc 16.19; Hb 4.14).
22. “Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas”.
I. “Quem tem ouvidos, ouça”. (O final). Pela última vez, no
Apocalipse, temos, juntas, estas onze palavras: “Quem tem ouvidos ouça o que o
Espírito diz às igrejas”. “O ouvir dos meus ouvidos...é ouvir meditação a voz
de Deus. (Cf. Jó 42.5 e Sl 85.8)”. Por cuja razão, nosso Senhor diz: “Vede pois
como ouvis...” (Lc 8.18a).
1. “Às igrejas. A palavra
“igreja” (gr. Ekklesia) nasceu pela primeira vez dos lábios de nosso Senhor
Jesus Cristo (Mt 16.18 e 18.17, duas vezes). Nesse sentido ocorre por 119 vezes
no Novo Testamento (só três vezes nos Evangelhos: Mt 16.18 e 18.17). Nessas 119
vezes em que o termo aparece, 109 vezes, surge no texto bíblico como igreja
local, e encontramos cerca de 10 vezes no Novo Testamento a palavra Igreja com
o sentido Universal. “Nestes primeiros capítulos (isto é, 1, 2 e 3) do
Apocalipse encontramos a palavra “igreja” (singular) ou “igrejas” (plural) 19
vezes (cf. 1.11, 20; 2.1, 7, 8, 11, 12, 17, 18, 23, 29; 3.1, 6, 7, 13, 14, 22,
etc), mas agora, no presente versículo, ela desaparece, e só reaparecerá, no
capítulo 22.16. Durante o tempo da Grande Tribulação, a Igreja não estará na
terra e, sim, com Cristo na recâmara celestial (cf. Ct 2.17; Ap 3.10)
Que Deus através do Espirito Santo continue abençoando, para que possamos compreender mais a sua Palavra.
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