QUINTA CARTA: À IGREJA DE SARDES
1. “E AO ANJO da igreja que está em
Sardes escreve: isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus, e as sete
estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto”.
I. “...Ao anjo da igreja”. Nada se sabe acerca desse anjo
(pastor) da igreja de Sardes, exceto aquilo que poderia ser depreendido do
presente texto. Pelo uso da expressão: “tens nome de que vives” dá a entender
sua grande popularidade. A História Eclesiástica menciona um “anjo” muito
famoso dessa igreja, mas sua estada ali se seu no século II, e não no primeiro;
seu nome era Melito. Melito, o Bispo de Sardes, do século II d.C., é mencionado
três vezes na “História Eclesiástica” de Eusébio. Melito escreveu uma apologia,
dirigida ao imperador romano, em defesa da fé cristã. Ele foi um crente
intenso, dotado de grande poder e autoridade na sua geração.
1. SARDES. O nome significa em
grego “príncipe de gozo”. Situação Geográfica: encrava-se no pequeno Continente
da Ásia Menor. Era essa a capital do antigo reino da Lídia. Originalmente
Sardes fora uma fortaleza poderosa, mas Ciro, rei da Pérsia, derrotou esta
cidade e outras das redondezas, no ano de (549 a. C.). Essa cidade passou às
mãos de Antíoco, o Grande, “Ali, por ocasião em que essa carta estava sendo
escrita, achava-se essa Igreja em uma situação espiritual extremamente
melindrosa. O processo de declínio de seu pastor fora tão sutil que, na
realidade, nem fora observado”. Dois gêneros de mortes estavam rondando este
“anjo”: (a) a morte moral (b) a morte espiritual. (Cf. Gn 20.3 e Ef 2.1). Ele
se encontrava duplamente morto (cf. Jd v. 12). A igreja é representada pelo seu
pastor, mas também é repreendida por Cristo através do mesmo. Ela é repreendida
por viver em situação contraditória: a vitalidade exterior disfarça morte
espiritual interior. É uma situação de limite, da qual ela se recuperará
mediante “uma lembrança” do que tem recebido e ouvido da parte do Senhor, que
diz: “Lembra-te pois do que tens recebido e ouvido, e guarda-o!”.
2. “SÊ vigilante, e confirma os
restantes, que estava para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas
diante de Deus”.
I. “...confirma os restante”. Embora o pastor de Sardes
estivesse sendo classificado como “mortos” a vista de Deus, esta dupla ordem de
Jesus Cristo nos deixa entrever que ainda, na sua vontade, Ele tenta um
derradeiro esforço para salvar o restante. Porém, a parte da pregação, deveria
fazê-la o pastor. É óbvio, diz M. S. Novah que alguns havia na igreja que ainda
tinham um pouco de vida espiritual. Daí Jesus haver dito: “...confirma os
restantes, que estavam para morrer”. A recomendação de Cristo é urgente, e
ordena livrar “os que estão destinados à morte”. A expressão “confirma”
depreendida do texto em foco, não significa: confirma sua morte, mas, confirma
sua fé (cf. At 14.22). O Dr. R. Norman observa que aquela igreja já não estava
inteiramente destituída do bem, da vida e da esperança. O que era bom precisava
ser melhorado. Ela tinha que ouvi o grito: “Torna-te desperto, e põe-te a
vigiar” . Essa é uma tradução literal do que diz o grego (Ef 5.14). O sono
deles era um sono letal, a menos que se despertassem.
3. “Lembra-te pois do que tens
recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre
ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei”.
I. “...Virei sobre ti como um
ladrão”. O leitor deve observar com atenção a frase, “como”
antecipando as palavras “um ladrão”.
1. O Dr. Russell Norman Champrin,
Ph, D. Grande expoente do Apocalipse, diz que essa frase tem as seguintes
significações: (a) De maneira inesperada; (b) Como um laço tristonho para os
que não estiverem preparados; (c) Sem nenhuma oportunidade de aviso prévio. As
Escrituras que falam da Vinda (Parousia) de Cristo, como um ladrão, são: *Mt
24.53; Lc 12.38; 1Ts 5.2, 4; Ap 3.3; 16.15). A expressão: “como um ladrão de
noite” em (2Pd 3.10), não se aplica à segunda Vinda de Cristo, mas ao “dia do
Juízo Final”, e expurgação de céus e terra. A palavra “ladrão”, com esse
sentido, no grego hodierno é Kleptós, indica alguém que normalmente não rouba
com violência, mas que obtém sucesso com suas habilidades imprevisíveis, em
contraste com outro vocábulo, “Lestes”, que significa “assaltante”, aquele que
se apossa do alheio por meio da violência. (As próprias autoridades judiciais
distinguem, entre o furto e o roubo). Segundo um exegeta, a frase empregada
neste versículo, é “Hleptós”, e indica uma forma “invisível”, “inesperada”, de
alguém, em direção de algo precioso, como por exemplo: “um tesouro” (Israel).
Sl 135.4: “uma pérola” (a Igreja). Mt 13.44-46 e ss). Esse deva ser o
significado do pensamento aqui e nos textos que se seguem.
4. “Mas também tens em Sardes
algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos, e comigo andarão de branco;
porquanto são dignos disso”.
I. “...e comigo andarão de
branco”. O branco é a cor da retidão, da pureza e inocência.
Os sacerdotes acusados, mas justificados diante do Sinédrio {O Sinédrio. É o
vocábulo grego synedrion (do qual o termo hebraico sanhedrin é uma palavra
emprestada). No NT o termo se refere à suprema corte judaica composta de 70
membros e um presidente: O Sumo Sacerdote} eram vestidos com um manto branco
como sinal de sua inocência. (Ver o que diz Judas V.23: “...aborrecendo até a
roupa manchada da carne”). Esse “andar” referido no presente texto, é presente
e escatológico, isto é, em companhia de Cristo em todos os tempos (cf. Ec 9.8).
Durante toda História de Israel, Deus preservou para Sl um “remanescente”, e
durante toda História da Igreja aqui na terra, o mesmo acontecerá. “O
remanescente de Israel não cometerá iniqüidade, nem proferirá mentira, e na sua
boca não se achará língua enganosa; Porque serão apascentados, deitar-se-ão, e
não haverá quem os espante” (Sf 3.13). Verdade é que nem todos em Israel e na
Igreja, andariam de branco com Jesus, mas “alguns”. É esta reserva moral que
durante todos os períodos de apostasia é louvado pelo Senhor (cf. 1Rs 19.18; Is
1.9; Ez capítulo 9; Rm capítulo 11). Àqueles que não “contaminaram seus
vestidos”, Jesus os chamou de “dignos”. Este elogio parece único nas sete
Igrejas da Ásia Menor; e só foi dito às pessoas fiéis da igreja de Sardes, pois
todo o restante dela estava morto.
5. “O que vencer será vestido de
vestes brancas, e de maneira nenhum riscarei o seu nome do livro da vida; e
confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos”.
I. “...Livro da Vida”. Referências bíblicas ao “Livro da
Vida” se acham em (Êx 32.33; Sl 69.28; Dn 12.1; Fl 4.3. Também se pode comparar
isso com trechos como Lucas 10.20 e Hebreus 12.23). Passagens similares sobre o
mesmo assunto podem ser vistas em (Dn 7.10; Ap 13.8 e 20.12, 15). Há
referências nos escritos pagãos às idéias contidas neste versículo. Dentro da
astrologia babilônica, poderíamos considerar o próprio Zodíaco como o livro ou
tabletes sobre os quais eram escritos a vontade divina e o destino humano.
1. E confessarei o seu nome. A
presente passagem lembra o que disse Jesus a seus discípulos: “Portanto,
qualquer que me confessar diante dos homens eu o confessarei diante de meu Pai,
que está nos céus” (Mt 10.32). Isto é, “testificar que pertence a Mim”. No
final das contas, o discipulado secreto é impossível, pois depois da Morte de
Cristo, não é mais aceito essa maneira de proceder (Jo 19.38). No contexto de
Mateus 10.34 e 39, esta confissão pública de fé em Cristo acarreta divisões e
conflitos, primeiramente na vida da família, depois do mundo.
6. “Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas”.
I. “...Quem tem ouvidos”. A presente recomendação da parte
de Cristo é feita também nos Evangelhos (Mateus e Marcos), sobre a forma: “Quem
tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mt 13.9, 43 e Mc 4.23, etc). No texto em foco, a
recomendação é feita a todas as igrejas, e se repete nos capítulos 2 e 3 por
sete vezes (2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13, 22). Os “ouvidos” de um homem são a sua
sensibilidade espiritual, e o seu “ouvir” é o uso dos meios espirituais que
produzem mudanças em seu íntimo, conforme se vê exigido nas advertências e
promessas anteriores. A expressão, no dizer de Vincent: “...é usada sempre
acerca de verdades radicais, grandes princípios básicos e grandes promessas”.
As sete cartas deveriam ser “lidas” nas igrejas (Ap 1.3). Poucas pessoas
poderiam “lê-las” pessoalmente, mas todos poderiam “ouvir” a leitura dessas
instruções. “O ouvido que ouve! Um dos mais solenes estudos da Bíblia inteira é
aquele concernente ao “ouvido que ouve” .
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