É natural que ocorram conflitos nas relações humanas. É
como o atrito que existe entre as engrenagens de um motor. Porém, há uma
solução bem simples para isso: basta que o motor seja desmontado e que cada
peça seja cuidadosamente guardada em uma embalagem separada. O conflito estará
resolvido, mas o motor já não existirá, nem as suas inúmeras utilidades. Não
haverá choques, nem desgastes. Também não haverá movimento nem produção de
energia. Temos então uma solução destrutiva e inadequada. Assim também acontece
no Corpo de Cristo. Já nos primeiros anos da era cristã, aconteciam
desentendimentos e colisões humanas na igreja. Em Atos 15.39 temos o relato de
um desacordo entre Paulo e Barnabé. Outro exemplo é o que acontecia na igreja
de Corinto. Paulo disse que havia entre eles dissensões (I Cor.11.18). O mesmo
apóstolo escreveu aos gálatas comparando-os aos animais, tamanha era a
agressividade entre eles (Gálatas 5.15).
Mencionamos alguns exemplos que, apesar de
terem em comum a questão do conflito, têm diferenças profundas e evidentes que
estão relacionadas às origens do problema. Precisamos perguntar: por quê
está acontecendo esse conflito?
I) QUATRO CAUSAS DOS CONFLITOS INTERPESSOAIS
1. Causa pessoal - Ocorre quando os
conflitos se dão por uma questão de gosto, opinião, opção ou estilo individual.
Exemplo: Paulo e Barnabé sobre Marcos.(At. 15.2)
2. Causa doutrinária - É o caso de haver
dentro da igreja um grupo que defende uma interpretação bíblica sobre um
assunto e outro grupo que entende diferente. Foi a situação da igreja de
Corinto (1 Co. 1). Quando existe um corpo estranho no organismo, como uma farpa
de vidro ou um espinho, é natural que haja o inchaço, a dor, e talvez até a
febre, como sinais que alertam contra uma anomalia. E assim continua até que o
mal seja extirpado. Esses problemas devem ser resolvidos pelos líderes
eclesiásticos, conforme modelo de Atos 15.7,28,29. Para tão nobre tarefa, é
mister que os líderes estejam cheios do Espírito Santo, como também é
biblicamente natural que estejam (At.6.3).
3. Causa carnal - A problema dos gálatas
foi a carnalidade, isto é, a condução da vida e do comportamento de acordo com
as inclinações da natureza pecaminosa, a qual está diretamente ligada aos
desejos físicos e egoístas. Observe que o conflito de causa pessoal ou doutrinária
pode ser também carnal, bastando que um dos envolvidos esteja dominado pela
carnalidade. A própria heresia, que, a princípio pode surgir de uma simples
falta de entendimento bíblico, pode também ser obra da carne, conforme Gálatas
5.20.
4. Causa diabólica - Muitos conflitos são,
certamente, idealizados por Satanás. Ele é o maior semeador de contendas entre
os irmãos, mas o que ele faz na maioria das vezes é "aproveitar a nossa
lenha para fazer sua fogueira". Então, os conflitos pessoais, que podem ter
até uma causa natural, ou os conflitos carnais e doutrinários, podem acabar
se tornando instrumento nas mãos do inimigo. O seu maior desejo é ver o
povo de Deus lutando consigo mesmo, quando deveríamos, juntos, lutar contra as
forças das trevas. Veja que isso foi o que ele fez no céu, até que os anjos,
que antes faziam parte do mesmo exército, começaram a lutar entre si, surgindo
então o exército demoníaco.
5. Como foi exposto no
início, alguns conflitos podem ter causas naturais e outros podem até ser necessários.
Contudo, o perigo sempre existe. O conflito é como o fogo. Muitas vezes
utilizamos o fogo em nossas casas. Ele é necessário, útil, embora se trate de
uma força destruidora. Se perdermos o controle sobre o fogo que usamos, então
tudo pode ser destruído repentinamente.
II) CONFLITOS AS VEZES SÃO NECESSÁRIOS
1. A discordância é normal. Somos pessoas
diferentes e muitas vezes teremos pontos de vista distintos e preferências
divergentes. A discordância pode fazer com que cada um parta num sentido diferente.
Foi o que aconteceu com Paulo e Barnabé. Cada um viajou para um lugar
diferente. Entretanto, se o problema é entre marido e mulher, não é bom que
cada um saia numa direção, ou, se a questão é doutrinária e existe boa intenção
nas pessoas envolvidas, então será útil e necessário que se passe à ...
2. ...discussão, a qual não é sinônimo de
briga mas de debate, exposição de idéias com o objetivo de se chegar a uma
conclusão proveitosa. Discutir a questão é melhor do que o silêncio, o qual
pode ocultar o problema e criar inimizades.
3. A contenda acontece quando uma das
partes quer impor a sua idéia, ou quando a parte que deveria se submeter se
nega a fazê-lo (II Tm.3.8). A bíblia diz que "ao servo do Senhor não
convém contender, mas ser manso para com todos." (II Tm.2.24). Chegamos ao
nosso limite. Daí em diante, o fogo começa a se alastrar.
4. A divisão já é uma atitude extrema. Em
alguns casos ela é correta, em outros não (Salmo 1.5; I João 2.19). Contudo,
mesmo que seja necessária, a divisão não deve ser estimulada por nós, cristãos,
já que Deus não nos deu o poder para separar o joio do trigo (Mateus 13.30). O
problema se agrava quando, depois da divisão, as partes querem continuar o
conflito. Então, está declarada a guerra.
III) ADMINISTRANDO O CONFLITO
1. Antes de tudo - Vale a pena começar a questão?
2. Analise a causa do conflito antes de
começá-lo. Será que vale a pena criar um problema no ônibus por causa de 1
centavo de troco? Quanto vale a nossa paz e a tranqüilidade da nossa
consciência? Algumas pessoas acham que sempre devem brigar por seu direito. O
apóstolo Paulo nos orienta que, algumas vezes, em determinados casos, é melhor
o cristão sofrer algum dano do que criar uma disputa (I Cor.6.7). Afinal, não
foi isso que Cristo ensinou, quando falou em "dar a outra face",
"entregar a capa" e "caminhar a segunda milha"?
3. Dê a Deus a oportunidade de resolver o
problema. Ore ao Senhor antes de agir ou falar.
4. Outro ponto a ser observado: Se você começar a
questão, terá condições de levar até às últimas conseqüências, ou sairá
envergonhado no meio da briga? (Lc.14.28). Portanto, muitas vezes, o melhor é
não iniciar o conflito. Muitos problemas seriam evitados se parássemos para
refletir antes de começar.
IV) NO MEIO DO CAMINHO: COMO CONDUZIR O CONFLITO?
1. Limites a serem respeitados. Nesse
caso, precisamos saber administrá-lo, dirigindo bem nosso barco por entre as
ondas, sem deixá-lo virar. Existe uma tênue linha que separa uma discussão
sadia de uma contenda. Precisamos então ter em mente alguns limites que não
ultrapassaremos. Nossas discussões deverão ser pautadas pelo respeito. Não
devemos usar palavras torpes ou agressivas, pois estas têm o poder de
suscitar a ira (Pv.15.1). Palavras mansas e sadias podem desarmar o ânimo
agressivo da outra parte (Tito 2.8). Um conflito mal conduzido resultará em ofensas
e deixará marcas. Podemos expor nossas opiniões, por mais divergentes
que sejam, sem usar de agressividade.
2. Sem orgulho - Se vamos discutir sobre
alguma coisa, precisamos deixar o orgulho de fora da conversa. Em algum
momento, poderá ser necessário admitir que o outro está certo. E, se não
estiver, talvez possamos desistir do conflito a favor da outra parte.
Logicamente, não devemos aceitar o pecado nem o erro, mas muitas vezes não é
isso que está em jogo, e podemos muito bem abrir mão da nossa proposta em
benefício do nosso próximo. Isso pode ser um sinal de maturidade. Veja o
exemplo de Abraão que, podendo escolher a terra diante de si, deixou que Ló
escolhesse primeiro. Será que as minhas idéias devem prevalecer sempre? A
opinião dos outros está sempre errada? Quem pensa ou age desse modo está
carente de humildade e tem a grande habilidade de criar confusões por
onde anda.
3. Se a discussão parece não produzir acordo,
então é bom que a mesma seja interrompida. Se uma das partes é
autoridade sobre a outra, então caberá a essa pessoa decidir sobre o assunto,
ou voltar à questão em outra ocasião.
V) DEPOIS DA TEMPESTADE: O QUE FAZER?
1. Se a contenda aconteceu, será necessário um conserto.
É natural que muitos ímpios sejam irreconciliáveis, incapazes de perdoar.
Porém, não faz sentido um cristão guardar mágoa contra ninguém e,
principalmente, contra outro irmão em Cristo.
2. Se você ofendeu, peça perdão. O perdão é o
remédio divino para os conflitos mal conduzidos e mal resolvidos. A falta
do perdão torna-se uma chaga na alma. A mágoa guardada causa maior mal a quem a
guardou. Se não perdoarmos aos nossos ofensores, também Deus não nos perdoará
(Mt.18.35 Mt.6.12-15).Se não perdoarmos aos nossos irmãos em Cristo, estaremos
interrompendo o fluir da bênção de Deus através do Corpo de Cristo. Esse tipo
de problema causa frieza espiritual. Cada membro depende do outro para receber
a corrente sangüínea, assim como os galhos da videira dependem uns dos outros
para receber a seiva. Se existirem bloqueios entre nós, a produção do fruto do
Espírito ficará comprometida.
3. A Bíblia nos ensina a amar, suportar e
sujeitar uns aos outros (Ef.4.1-6). O apóstolo Paulo usou a palavra
"suportar" porque já sabia que o relacionamento entre os irmãos teria
muitas dificuldades. Contudo, não deixaremos de ser irmãos.
VI) PRINCÍPIOS PREVENTIVOS
1. Conflitos interpessoais
são como o atrito entre as peças de um motor em funcionamento. O que podemos
fazer para reduzir esse atrito e minimizar seus efeitos negativos? Lubrificar o
motor. O óleo é um símbolo bíblico do Espírito Santo. Precisamos
dessa unção em nossas vidas. Assim, quando formos atacados por alguém, teremos
uma palavra mansa para aplacar-lhe o furor. Teremos o amor do Senhor em
nossos corações, o qual produzirá sempre uma pré-disposição de aceitar os
irmãos. Essa pré-disposição não permitirá o preconceito. Então, não haverá
entre nós barreiras, muitas das quais se formam sem a menor razão. A operação
do Espírito Santo será o antídoto contra as antipatias gratuitas e
desmotivadas, e também o remédio para as mágoas e as inimizades. Esta unção nos
torna capazes de renunciar, de negar a nós mesmos, considerando que o nosso
irmão é superior (Fp.2.3), é digno de todo o nosso respeito e de todo o nosso
apreço. Parece até que estamos falando de uma utopia. Contudo, esse estilo de
vida é a proposta de Deus para nós, afim de que não sejamos um reino dividido,
mas um corpo que, unido por juntas e medulas possa crescer na presença do
Senhor (Ef.4.16).
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