I -
Nome – Miquéias teve um
nome que por si mesmo era um credo, pois a forma mais ampla e provavelmente
mais antiga - Mikayahu - significa “Quem é semelhante a Javé?” (Mq. 1:1; 7:18;
Jr. 26:18). Como Miguel, que significa “Quem é como Deus?". Miquéias tem
quase o mesmo significado. Nosso profeta
não deve ser confundido com Micaías, que era detestado por Acabe (1 Reis 22:8).
II - Lugar - Ele é chamado “morastita” (1:1), visto ter nascido em
Moreset-Gat (Mq. 1:14), local situado 32 Km. ao sudoeste de Jerusalém. Jerônimo
colocou Moreset a leste de Eleutherópolis, a moderna Beit-gibrin. Como Amós,
Miquéias era natural do campo. Em geral existe mais religião no lar do campo do
que no da cidade. Aparentemente Miquéias não gostava da cidade (Mq.
1:5;5:11;6:9).
III - Personalidade - Miquéias deve ter tido uma personalidade
muito forte. Era um homem valoroso e de fortes convicções. O segredo de sua
força está revelado em Mq. 3:8: “Mas eu estou cheio do poder do Espírito do
SENHOR, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a
Israel o seu pecado”. Como um verdadeiro patriota e pregador fiel, ele
denunciou vibrantemente o pecado e assinalou o local da vinda de Cristo. Ele
foi, antes de tudo, um profeta dos pobres e um amigo dos oprimidos. Sentia a
mesma paixão de Amós pela justiça e tinha o mesmo coração amoroso de Oséias.
Miquéias era um Amós redivivo. Sua grande sinceridade contrasta notavelmente
com os lisonjeiros ensinos de seus contemporâneos, os quais, como falsos
profetas, idealizavam as mensagens conforme os seus soldos (Mq. 3:5).
IV - Seu tempo - Conforme o título do seu livro, Miquéias
profetizou “nos dias de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá” (Mq. 1:1). Esta é
uma data amplamente confirmada por evidência interna e também por Jeremias
26:18, o qual cita Miquéias 3:12. Foi, portanto, um contemporâneo de Isaías.
Ele deve ter pregado tanto antes como depois da queda de Samaria (722 a. C) e
muito provavelmente desde cerca de 735 até 715 a.C. Ele pregado por mais de 40
anos.
Sob o reinado de Jotão, o luxo era esplêndido. Sua ambição de construir fortalezas e palácios em Jerusalém custou a vida de muitos camponeses. Sob o reinado de Acaz, Judá foi obrigada a pagar tributos à Assíria, tributos que juntamente com o custo da guerra sírio-efraimita, em 734 a.C., caíram como uma pesada carga sobre todas as classes. Tanto os ricos como os pobres sofreram. Os arrendatários egoístas e avarentos usavam o seu poder para oprimir, confiscando os bens dos pobres e até mesmo expulsando as viúvas de suas casas. Todo tipo de crimes era perpetrado, com os ricos devorando as classes humildes, “como ovelhas comendo a erva”. Sob Ezequias, que procurou reformar o estado, as condições se tornaram ainda mais desesperadoras. Os homens deixaram de confiar uns nos outros, enchendo Jerusalém de facções e intrigas. Os conselheiros do rei se dividiram na política, alguns advogando uma aliança com o Egito contra a Assíria e outros advogando uma submissão à Assíria. Os encarregados da lei abusavam de seus poderes. Os nobres roubavam os pobres. Os juízes aceitavam suborno. Os profetas adulavam os ricos e os sacerdotes ensinavam em troca de remuneração (Cap. 2). A cobiça das riquezas imperava de todos os lados. Os tiranos opulentos se enganavam quanto a um possível juízo. Em semelhante crise apareceu Miquéias, procurando conduzir a nação de volta a Deus e aos seus deveres.
Sob o reinado de Jotão, o luxo era esplêndido. Sua ambição de construir fortalezas e palácios em Jerusalém custou a vida de muitos camponeses. Sob o reinado de Acaz, Judá foi obrigada a pagar tributos à Assíria, tributos que juntamente com o custo da guerra sírio-efraimita, em 734 a.C., caíram como uma pesada carga sobre todas as classes. Tanto os ricos como os pobres sofreram. Os arrendatários egoístas e avarentos usavam o seu poder para oprimir, confiscando os bens dos pobres e até mesmo expulsando as viúvas de suas casas. Todo tipo de crimes era perpetrado, com os ricos devorando as classes humildes, “como ovelhas comendo a erva”. Sob Ezequias, que procurou reformar o estado, as condições se tornaram ainda mais desesperadoras. Os homens deixaram de confiar uns nos outros, enchendo Jerusalém de facções e intrigas. Os conselheiros do rei se dividiram na política, alguns advogando uma aliança com o Egito contra a Assíria e outros advogando uma submissão à Assíria. Os encarregados da lei abusavam de seus poderes. Os nobres roubavam os pobres. Os juízes aceitavam suborno. Os profetas adulavam os ricos e os sacerdotes ensinavam em troca de remuneração (Cap. 2). A cobiça das riquezas imperava de todos os lados. Os tiranos opulentos se enganavam quanto a um possível juízo. Em semelhante crise apareceu Miquéias, procurando conduzir a nação de volta a Deus e aos seus deveres.
V - Mensagem - A mensagem de Miquéias suplementou a de
Isaías. Miquéias um rústico e Isaías era um estadista, Miquéias um evangelista
e um tipo de ‘sociólogo’. Isaías tratou das questões políticas, Miquéias quase
exclusivamente da religião pessoal e da moralidade social. Ele era mais
democrático do que Isaías. Suas relações pessoais não eram com o rei, mas com o
povo. Era um profeta do povo. Isaías ensinou a inviolabilidade de Sião,
Miquéias predisse a sua destruição (Mq. 3:12). A nobreza tinha um conceito
equivocado de Deus, imaginando que, por serem pessoas respeitáveis, o castigo
era impossível. E como argumento indagavam: “Não está o Senhor no meio de nós?”
Completando: “Nenhum mal nos sobrevirá” (Mq. 3:11).
Miquéias possuía idéias avançadas sobre o reino de Deus e elevou muito alto o modelo da religião e da ética, conforme Mq. 6:8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” Toda a sua mensagem poderia ser expressa nesta declaração: “os que vivem de modo egoísta e luxuoso, mesmo que ofereçam sacrifícios dispendiosos, aos olhos de Deus são vampiros que sugam o sangue vital dos pobres”.
Miquéias possuía idéias avançadas sobre o reino de Deus e elevou muito alto o modelo da religião e da ética, conforme Mq. 6:8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” Toda a sua mensagem poderia ser expressa nesta declaração: “os que vivem de modo egoísta e luxuoso, mesmo que ofereçam sacrifícios dispendiosos, aos olhos de Deus são vampiros que sugam o sangue vital dos pobres”.
VI - Análise - Apesar da fórmula “OUVI”, repetida três vezes
(Mq. 1:2; 3:1 e 6:1-2), a qual introduz as três principais seções do livro, a
melhor divisão do material, conforme o caráter dos assuntos, é como segue: Caps.
1-3 - Juízo; Caps. 4-5 - Consolo; Caps. 6-7 - O caminho da salvação.
Caps. 1-3 – Denúncia severa e completa condenação. Estão cheios de
repreensões apaixonadas contra os oficiais do templo e do estado, acompanhadas
de trovões de juízo, admoestação e ameaça, até que as censuras do profeta se
tornam desagradáveis e os que as escutam ordenam que se cale (Mq. 2:6).
Miquéias foi o primeiro entre os profetas a ameaçar Jerusalém com a destruição
(Mq. 3:12). Contudo, a sorte do restante da nação foi clara e distintamente
resguardada da sorte da capital. Suas ameaças, felizmente, foram seguidas de
promessas de restauração.
Caps. 4-5 - Vislumbres da glória vindoura, com promessa se salvação,
incluindo esperanças messiânicas e escatológicas. Miquéias olha para trás do
mesmo modo como contempla o futuro. Como sempre acontece no Velho Testamento,
sua visão do futuro está alicerçada nos feitos do presente. No livramento
vindouro de Judá (como de Senaqueribe, 701 a.C.), Miquéias vê o futuro triunfo
da justiça. Dois quadros se apresentam em sua mente - a exaltação de Sião e o
nascimento do Messias, em Belém.
a) Mq.4:1-5 - fazem uma descrição de Sião destinada, conforme ele vê, a
se tornar a metrópole espiritual do mundo inteiro (sob a soberania do Deus de
Israel), com as nações aceitando a lei do Senhor como o seu árbitro, um tempo
de paz universal. Israel será supremo no que toca à religião. A idade áurea,
por tanto tempo ansiada, tornar-se-á uma realidade.
b) Mq.5:2 e seguintes - profetizam que o Messias haveria de nascer em Belém, como Davi. Isaías 7:14 havia predito: “...Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”. Miquéias prediz o seu nascimento numa vila. Setecentos anos depois, no reinado de Herodes, o Grande, os magos que procuravam o local, com a ajuda dos rabinos judeus, obtiveram desta passagem a direção para prosseguir sua viagem (Mateus 2:1-6).
Caps. 6-7 - A controvérsia de Javé, diálogo sumamente dramático, que vindica a providência de Javé. O povo enxerga Deus como um Senhor austero, avarento e exigente, o qual procura submetê-lo a requisitos injustos. Eles querem saber quando Deus ficará satisfeito. Por meio de métodos cruéis e equivocados, os judeus tentam apaziguar a ira divina, oferecendo os frutos do seu ventre pelos pecados de suas almas (Mq.6:7). Javé lhes responde na que é considerada uma das maiores passagens do Velho Testamento: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus” (Mq. 6:8). O profeta prossegue fazendo, com grande ênfase, uma das mais amargas críticas a uma comunidade comercial que se encontra em toda a literatura, denunciando: “a medida escassa” (Mq. 6:10) e os pecados sociais da nação, os quais estão empurrando todo o povo, irremediavelmente, para a destruição (Mq. 6:15-16). Nesta seção, todas as classes, e não somente os líderes, como nos caps. 1-3, e todo o povo comum é denunciado como sendo mau. Não existe homem bom (Comparar com Romanos 3:10-18). “O melhor deles é como um espinho...” (Mq. 7:4). O profeta termina com uma lindíssima oração, como uma nobre apóstrofe a Javé, o incomparável Deus do perdão e da graça (Mq. 7:7-20).
VII - Os três grandes textos de Miquéias
1. Mq. 3:12: “Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um
campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa como
os altos de um bosque”. Este texto é a chave e o clímax da mensagem do profeta,
famoso por ter sido lembrado depois de um século, o que possibilitou a salvação
da vida de Jeremias: “Então disseram os príncipes, e todo o povo aos sacerdotes
e aos profetas: Este homem não é réu de morte, porque em nome do SENHOR, nosso
Deus, nos falou” (Jr. 26:18). Muito raramente um profeta do Velho Testamento
cita outro. Evidentemente, a reforma de Ezequias pode ter sido animada, até
certo ponto, por Miquéias (Comparar com 2 Reis 18:4).
2. Mq. 5:2 : “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de
Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os
tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Miquéias foi o primeiro entre os
profetas a fixar os olhos em Belém, como sendo o local do nascimento do futuro
Libertador. Ele seria um servo. Não iria nascer ali na capital, ignorando todas
as necessidades rurais, irmão dos patrícios. Seria um homem de origem humilde,
participante das cargas dos pobres - de fato, um Libertador dos pobres.
Miquéias, o profeta dos pobres, previu um Messias dos pobres.
3. Mq. 6:8 : “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o
SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes
humildemente com o teu Deus? “ Este verso é o lema escrito no Departamento de
Religião, no salão de leitura do Congresso de Washington. Contém os três
maiores requisitos da verdadeira religião, isto é, fazer justiça, usar de
misericórdia e andar humildemente. Ele resume nestas três fases todo o ensino
da religião hebraica. A simplificação da religião sempre foi a vocação do
profeta. Davi reduziu - como sugere o Talmude - os 613 mandamentos do
Pentateuco ao que está no Salmo 15. Miquéias os reduziu a três. E Jesus os
reduziu a dois: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a
tua alma, e de todo o teu pensamento... Amarás o teu próximo como a ti mesmo”
(Mateus 22:37,39). Comparem estas passagens com Tiago 1:27.
a) Fazer justiça - a justiça na Bíblia é reconhecida como a moral
elementar. Ela é a base de todo o caráter moral, a qualidade essencial de um
homem bom. É um dos atributos de Deus. Ela significa dar aos semelhantes tudo
quanto estes têm o direito de esperar. De preferência a justiça ideal do
profeta é a eterna Regra de Ouro citada por Jesus em Mateus 7:12: “Portanto,
tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhos também vós, porque
esta é a lei e os profetas”.
b) Amar a bondade (hesed), a compaixão e a misericórdia - Esta é a
palavra favorita de Oséias e expressa uma qualidade mais elevada que a mera
justiça. Muitos cumprem esta deixando de cumprir aquela. A misericórdia inclui
a bondade. Às vezes a justiça denota uma dúvida, enquanto a bondade sempre
denota graça e favor. É a bondade que, realmente, garante a prática da justiça.
Quando alguém não ama um princípio ele faz o possível para evitar a sua aplicação.
A verdade é que a pessoa que faz o bem sem amar não é uma boa pessoa. Ela até
finge que é boa, mas deixaria de fazer o bem, se isso lhe fosse possível. Deus
deseja menos dos outros do que de nós mesmos.
c) Andar humildemente - Este terceiro requisito é uma conseqüência dos
dois anteriores. Não se pode obedecer aos dois primeiro sem obedecer ao
terceiro (Amós 3:3: “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de
acordo?”) Andar humildemente significa render-se à pessoa, “inclinando-se para
baixo”, como o fazem as crianças. A humildade é o maior adorno da religião. Estes três requisitos: a
justiça, a misericórdia e a humildade - a honestidade, a magnanimidade e um
coração manso - são, conforme Miquéias, as três coisas essenciais de uma vida
religiosa. O Cristianismo não as modifica perceptivelmente e dá-lhes uma
aplicação mais ampla e profunda. Só que Miquéias deixa de nos falar do poder de
Deus, a fim de podermos cumprir esses requisitos. Somente na cruz poderemos
encontrar o caminho.
VIII - Estilo - Vivência e ênfase, relâmpagos de indignação pelos males sociais, rápidas transmissões de ameaça, de misericórdia, emoção veemente e simpática ternura. A força, a cadência e o ritmo retóricos, muitas vezes elevados e sublimes. São estas algumas das características mais notáveis do estilo literário do profeta. Ele escreveu em excelente Hebraico. Tanto os seus pensamentos como a sua linguagem justificam sua pretensão de falar com o poder e a inspiração de Javé: “Mas eu estou cheio do poder do Espírito do SENHOR, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (Mq. 3:8).
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