Extraído da obra "em defesa de cristo", de Lee Strobel, ex-ateu, entrevistando o Dr. Craig L. Blomberg. PH.D.
É possível acreditar que os quatro evangelhos foram escritos pelas pessoas que dão nome a eles?
Rigorosamente falando, os evangelhos são anônimos. Mas o testemunho uniforme da igreja primitiva é que Mateus, também conhecido por Levi, o coletor de impostos, e um dos 12 discípulos, escreveu o primeiro evangelho do Novo Testamento; João Marcos, companheiro de Pedro, é autor do evangelho que chamamos de Marcos; Lucas, o “médico amado” segundo Paulo, escreveu tanto o evangelho que leva seu nome quanto os Atos dos Apóstolos. Não se sabe de ninguém mais que pudesse tê-los escrito. Pelo que tudo indica, a autoria desses três evangelhos não era motivo de disputa.
Será que alguém não teria algum motivo para mentir, dizendo que aquelas pessoas escreveram os evangelhos, quando na verdade não o fizeram?
Aquelas personagens eram singulares. Marcos e Lucas nem sequer pertenciam ao grupo dos 12. Matheus sim, mas era odiado porque fora coletor de impostos; portanto, depois de Judas Iscariotes (que traiu Jesus!), seria ele a figura mais abominável. Compare isso com o que aconteceu quando os fantasiosos evangelhos apócrifos foram escritos muito depois. As pessoas atribuíram sua autoria a personagens conhecidos e exemplares: Filipe, Pedro, Maria, Tiago. Esses nomes tinham muito mais prestígio que os de Mateus, Marcos e Lucas. não haveria por que conferir a autoria a esses três indivíduos menos respeitáveis se não fossem de fato os verdadeiros autores.
E João? perguntei-lhe. — Ele era muito importante; na verdade, João não era tão-somente um dos 12 discípulos, ele era um dos três apóstolos mais íntimos de Jesus, juntamente com Tiago e Pedro.
Sim, ele é uma exceção. E o mais interessante é que o evangelho de João é o único sobre o qual paira uma certa dúvida quanto à autoria. Não há dúvida quanto ao nome do autor: era João mesmo. A questão é que não se sabe se foi João, o apóstolo, ou se foi outro. Segundo o testemunho de um escritor cristão chamado Papias, em aproximadamente 125 d.C., havia João, o apóstolo, e João, o ancião, mas o contexto não deixa claro se ele se referia a uma única pessoa de duas perspectivas distintas ou a pessoas diferentes. Fora essa exceção, todos os demais testemunhos afirmam unanimemente que foi João, o apóstolo, o filho de Zebedeu, quem escreveu o evangelho.
Voltando a Marcos, Mateus e Lucas, que provas específicas se tem de que são eles os autores dos evangelhos?
Uma vez mais, o testemunho mais antigo e possivelmente mais significativo é o de Papias, que, por volta de 125 d.C, afirmou especificamente que Marcos havia registrado com muito cuidado e precisão o que Pedro testemunhara pessoalmente. Na verdade, ele disse que Marcos "não cometeu erro nenhum" e não acrescentou "nenhuma falsa declaração". Ele disse que Mateus preservara também os escritos sobre Jesus. Depois, Ireneu, escrevendo aproximadamente em 180 d.C, confirmou a autoria tradicional.
Alguns estudiosos dizem que os evangelhos foram escritos muito depois dos acontecimentos por eles registrados. Com isso, as lendas que se desenvolveram durante esse período acabaram por contaminar sua redação, alçando Jesus de simples professor sábio ao mitológico Filho de Deus. O senhor acha razoável essa hipótese ou será que existem indícios suficientes de que a composição dos evangelhos é anterior a essa data, ou seja, antes que a lenda pudesse corromper totalmente o que ficou registrado?
As datas estabelecidas no meio acadêmico, mesmo nos círculos mais liberais, situam Marcos nos anos na década de 70, Mateus e Lucas na década de 80, e João na década de 90. Observe que essas datas ainda estão dentro do período de vida de várias pessoas que foram testemunhas oculares da vida de Jesus, inclusive daquelas que lhe foram hostis, e que por isso poderiam atuar como parâmetro de correção caso houvesse em circulação algum ensinamento falso sobre Jesus. Conseqüentemente, essas datas mais recentes para os evangelhos não são assim tão recentes. Na verdade, é possível fazer uma comparação muito instrutiva. As duas biografias mais antigas de Alexandre, o Grande, foram escritas por Ariano e Plutarco depois de mais de 400 anos da morte de Alexandre, ocorrida em 323 a.C, e mesmo assim os historiadores as consideram muito confiáveis. É claro que surgiu um material lendário com o decorrer do tempo, mas isso só aconteceu nos séculos posteriores aos dois autores. Por outras palavras, nos primeiros 500 anos, a história de Alexandre ficou quase intacta. O material lendário começou a aparecer nos 500 anos seguintes. Portanto, comparativamente, é insignificante saber se os evangelhos foram escritos 60 ou 30 anos depois da morte de Jesus. Na verdade, a questão praticamente inexiste.
O senhor acredita que eles foram escritos possivelmente antes da data mencionada?
Sim, antes podemos confirmar isso pelo livro de Atos, escrito por Lucas. Atos termina, aparentemente, sem uma conclusão. Paulo é a personagem principal do livro, e se encontra preso em Roma. É assim, abruptamente, que o livro acaba. O que acontece com Paulo? Atos não nos diz, provavelmente porque o livro foi escrito antes da morte dele. Isso significa que o livro de Atos não pode ser posterior a 62 d.C. Assim, podemos recuar a partir desse ponto. Uma vez que Atos é o segundo tomo de um volume duplo, sabemos que o primeiro tomo — o evangelho de Lucas — deve ter sido escrito antes dessa data. E já que Lucas inclui parte do evangelho de Marcos, isto significa que Marcos é ainda mais antigo. Se trabalharmos com a margem aproximada de um ano para cada um, chegaremos à conclusão de que Marcos foi escrito por volta de 60 d.C, talvez até mesmo em fins da década de 50. Se Jesus foi morto em 30 ou 33 d.C, temos aí um intervalo de, no máximo, 30 anos aproximadamente. Em termos de história, principalmente se compararmos com Alexandre, o Grande, disse ele, é como se fosse uma notícia de última hora!
De que época datam os primeiros testemunhos mais importantes sobre a expiação, a ressurreição e a relação única de Jesus Cristo com Deus?
É bom lembrar que os livros do Novo Testamento não estão em ordem cronológica. Os evangelhos foram escritos praticamente depois das cartas de Paulo, cujo ministério epistolar começou por volta do fim da década de 40. A maior parte de suas cartas mais importantes são da década de 50. Para saber qual a informação mais antiga, vamos às cartas de Paulo com a seguinte pergunta: "Existem sinais aqui de que fontes mais antigas teriam sido usadas na redação dessas cartas?". Descobrimos que Paulo havia abraçado alguns credos, confissões de fé ou hinos da igreja cristã mais antiga. Esses elementos remontam ao alvorecer da igreja pouco depois da ressurreição. Os credos mais famosos são os de Filipenses 2.6-11, que fala de Jesus como tendo a mesma natureza de Deus, e Colossenses 1.15-20, onde Jesus é descrito como a "imagem do Deus invisível", que criou todas as coisas e por meio de quem todas as coisas foram reconciliadas com Deus, "estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz". Essas passagens sem dúvida são importantes porque mostram o tipo de crença que tinham os primeiros cristãos em relação a Jesus. Todavia, talvez o credo mais importante no que se refere ao Jesus histórico seja o de 1Coríntios 15, onde Paulo usa uma linguagem técnica para indicar que estava transmitindo essa tradição oral de uma forma relativamente fixa.
Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos (1Co 15.3-7).
Essa é a questão. Se a crucificação ocorreu em 30 d.C, a conversão de Paulo se deu aproximadamente em 32. Ele foi então levado imediatamente para Damasco, onde se encontrou com um cristão chamado Ananias e alguns outros discípulos. Seu primeiro encontro com os apóstolos em Jerusalém teria ocorrido em 35 d.C. Em algum momento desse período, Paulo recebeu esse credo, que fora formulado pela igreja primitiva e era usado por ela. Temos aqui, portanto, os principais fatos sobre a morte de Jesus pelos nossos pecados, além de uma lista detalhada daqueles para quem ele apareceu ressuscitado — tudo isso se dá no intervalo de dois a cinco anos depois dos eventos propriamente ditos! Não se trata aí de mitologia elaborada cerca de 40 anos ou mais depois, conforme pretende Armstrong. Pode-se perfeitamente argumentar a favor da crença na ressurreição, muito embora não haja nenhum registro escrito, que ela remonta aos dois anos posteriores ao evento. Isso é de suma importância — disse ele, levantando um pouco a voz para dar ênfase. Não estamos comparando 30 ou 60 anos com os 500 anos normalmente aceitos para outros dados — estamos falando de dois anos!
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