Joel - O Profeta do Juízo Divino



I – A personalidade do profeta - Nada se sabe a respeito da naturalidade nem da biografia de Joel, estando sua carreira e personalidade envoltas em obscuridade. Apenas algumas deduções podem ser feitas com segurança através dos seus escritos. Contudo, diz-se que o profeta é filho de Petuel, supondo-se que este nome signifique “Persuadido por Deus” (Joel 1:1).

O próprio nome de Joel - em Hebraico “Yo-el” - significa “Javé é Deus” e por isso, como o nome “Miquéias”, parece conter uma breve confissão de fé, a qual, provavelmente, reflete a piedade de seus pais judeus. Esse nome aparece com freqüência no Antigo Testamento, havendo pelo menos uma dúzia de outros homens com o mesmo nome, como por exemplo, Joel, filho de Samuel e pai de Hemã, o cantor (1 Samuel 8:2; 1 Crônica 6:33). Joel é também o nome de um dos valentes de Davi, irmão de Natã (1 Crônicas 11:38).

É provável que o profeta tenha nascido em Judá, talvez próximo de Jerusalém, visto como fala familiarmente de “Sião”, dos “filhos de Sião” (Joel 2:1,23), de “Judá e Jerusalém”. Pelo seu interesse no templo tem-se deduzido também que ele foi um sacerdote (Joel 1: 13-17). De todos os modos, pelas suas profecias torna-se muito evidente que não apenas foi um poeta e homem de oração, como um profeta no sentido mais amplo. Foi o primeiro a falar sobre “a vinda do grande e terrível “Dia do Senhor” (Joel 2:11,31).

II – Esboço e conteúdo - Existem apenas duas grandes divisões principais no Livro de Joel: 1) Caps. 1:23 a 2:17 (37 versos), nos quais o profeta fala, descrevendo mui graficamente uma praga de gafanhotos, acompanhada de uma seca, terminando com uma fervorosa exortação ao arrependimento. 2) Joel 2:18 a 3:21, (36 versos), nos quais Javé fala, anunciando em linguagem solene a condenação final dos inimigos de Israel e terminando com uma descrição da gloriosa vitória do povo de Deus. A primeira metade do livro começa com trevas e termina com luz. A segunda metade começa com juízo e termina em vitória. O livro de Joel não consiste, como tantos do Antigo Testamento, de notas esparsas de um amplo ministério profético, o qual se estende por vários anos, mas se ocupa da descrição de um único incidente ( a praga dos gafanhotos) com aplicação moral e espiritual.

III - A ocasião - É óbvio que Joel tomou como seu texto uma praga de gafanhotos comuns, a qual, por algum tempo, havia causado pânico nacional, descrevendo os seus destroços como não tendo paralelo na história da terra. Ele diz em Joel 1:4: “O que ficou da lagarta, o gafanhoto o comeu, e o que ficou do gafanhoto, a locusta o comeu, e o que ficou da locusta, o pulgão o comeu”. Desse modo, pelos quatro sinônimos empregados pelo profeta, tudo indica tratar-se de quatro enxames sucessivos, ou então, quatro divisões distintas do mesmo enxame. Por exemplo, primeiro as larvas e erugas, depois os gafanhotos que apenas saltam, e finalmente os grandes gafanhotos já plenamente desenvolvidos, os quais voam.

Em Joel 2:25 todos são mencionados pela segunda vez, usando-se os mesmos nomes, porém não exatamente na mesma ordem. Desta última passagem pode-se deduzir que a praga perdurou por um considerável período de tempo: “E restituir-vos-ei os anos que comeu o gafanhoto, a locusta, e o pulgão e a lagarta, o meu grande exército que enviei contra vós”.

Seu nome científico é “acridium peregrinum”. As larvas recém incubadas são completamente negras e se assemelham a grandes formigas sem asas. Contudo, ao se desenvolverem, despojam-se da pele externa, que chega a ser-lhes pouca, e passam por três períodos claramente distintos, isto é: o período sem asas, que os árabes chamam “debby”, a erupção dos lábios, quando as asas começam a se desenvolver, a qual é chamada “gowga”, e o gafanhoto que voa com asas bem desenvolvidas, conhecido como “jared”. Os machos têm um corpo amarelo. As fêmeas são maiores e têm uma cor de café forte. Estas depositam seus ovos no solo, a uma profundidade de 10 cm, por mais duro que seja este. Quando os insetos se desenvolvem plenamente, chegam a 6,5 cm e suas cabeças parecem com as do cavalo. Conforme Joel 2:25. Eles de fato se assemelham a guerreiros voadores, trepam nos muros, penetram nas casas, e fazem estremecer com o barulho de suas asas (Joel 2:7-10). Calcula-se que os gafanhotos voem a uma velocidade de 29 km horários.



IV - A originalidade de Joel – Reconhece-se que muitos profetas devem ter lido a sua obra, porque ou ele cita quase tudo o que diz ou então foi citado por Amós, Isaías, Miquéias, Naum, Sofonias, Abodias, Ezequiel, Malaquias e também por alguns salmistas.

1- O Dia do Senhor - Joel deve ter inventado esta expressão, visto como a deixou no ponto em que Amós e outros profetas posteriores a adotaram. Mesmo que seja uma expressão escatológica, podendo ter sido criada posteriormente, ela é usada nas profecias do Antigo Testamento, desde os tempos mais remotos ( Amós 5:18 e Isaías 2:12). Provavelmente foi Joel quem inventou esse conceito. Porque o “grande Dia do Juízo” saiu de sua mão tão profética que seria adotada pelos seus sucessores, os quais apenas puderam acrescentar-lhe um toque. A visão de uma praga de gafanhotos foi a primeira a ser sugerida à mente de Joel.

2. A independência literária - Dois exemplos bastam para mostrar a pretensão: a) O pensamento em Joel 3:16: “E o SENHOR bramará de Sião, e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; e os céus e a terra tremerão, mas o SENHOR será o refúgio do seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel”. Ele é claramente anterior ao que diz Amós 1:2: “... O SENHOR bramará de Sião, e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; os prados dos pastores prantearão, e secar-se-á o ume do Carmelo”. Porque em Joel se encontra o clímax da revelação, tendo Amós com ele começado, tomando este como se fora o seu próprio texto. b) Em Joel 3:10 Javé exorta os gentios: “Forjai espadas das vossas enxadas, e lanças das vossas foices; diga o fraco: Eu sou forte”. Porém em Isaías 2:4 e Miquéias 4:3, foi predito um tempo em que os homens de Judá “... converterão as suas espadas em enxadões [pás] e as suas lanças em foices...”, o que demonstra a precedência de Joel.

3) Derramamento do Espírito - Joel prediz mais explicitamente do que nenhum outro o derramamento do Espírito sobre toda a carne (Joel 2:28-29). Essa predição tem lhe valido o título de “O Profeta do Pentecostes”, mesmo que Joel tivesse apenas uma vaga idéia da verdadeira significação destas palavras no grande programa divino.

V - A questão de data de Joel- Franz Delitzsch declarou, confiantemente, há 40 anos, que a grande antiguidade do profeta Joel é uma “certeza”. Por outro lado, há 20 anos, Cornill afirmou com a mesma ousadia que “poucos resultados da crítica do Antigo Testamento são estabelecida tão segura e firmemente como a que o Livro de Joel é datado do século de Esdras e Alexandre, o Grande”. Calvino foi mais cauteloso, deixando o assunto sem solução..
Há um fato, sem dúvida, o qual, mais do que nenhum outro, pode determinar a data do livro, que é a sua colocação entre os Doze. Tanto no cânon hebraico como na Septuaginta, Joel está agrupado entre os profetas primitivos que viveram antes do desterro. Desse modo, no cânon hebraico a ordem é a seguinte: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, etc., enquanto na Septuaginta é esta: Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Abodias, Jonas, etc. Isso mostra que os rabinos da antiguidade consideravam Joel como um dos primeiros profetas. Esse fato cria, portanto, a forte suposição de ter sido ele um profeta anterior. Também, se o livro fora escrito depois, mais ou menos no tempo da canonização dos profetas, pareceria estranho que os encarregados do cânon o tivessem considerado anterior.
Joel tomou emprestado dos outros, a não ser que os outros dele tenham tomado emprestado. Calcula-se que 27 frases, clausulas e expressões dos 73 versos do Livro de Joel têm paralelo com outros escritos do Velho Testamento. Porém Joel 2:2 é claramente citado em Sofonias 1:15: “Aquele dia será um dia de indignação, dia de tribulação e de angústia, dia de alvoroço e de assolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas”, sendo comum às duas citações as frases “de tribulação e de angústia”, “de nuvens e de densas trevas”. Em Joel elas são uma parte integrante da praga de gafanhotos, quando estes se aproximam, enquanto em Sofonias elas são mais um adorno retórico, reforçando a elaborada descrição do “Dia do Senhor”.

VI- O estilo - Joel se assemelha a Amós, o qual, mesmo sendo um dos profetas mais primitivos, foi autor do Hebraico mais puro e clássico da Bíblia. Considera-se a pureza do estilo de Joel como evidência de sua antiguidade.
A literatura hebraica se caracteriza por um ritmo conforme é ostentado por Joel. Os destroços dos gafanhotos são descritos em linguagem poética, num movimento breve e rítmico muito adequado para descrever a rápida propagação da praga e do seu irresistível ataque à cidade. Em todas essas coisas existem poucos que superam Joel. O uso do paralelismo (Joel 1:10) e da hipérbole (Joel 2:30-31) condescende com o que Isaías emprega, num jogo de palavras, a fim de preparar as suas descrições mais gráficas e mais vivas. (Joel 1:12,15; 3:12).


VII- Conclusão - 1). O ensino fundamental de valor religioso permanente no livro de Joel é o conceito claro, definido e até mesmo original do “Dia do Senhor”. Esta expressão aparece cinco vezes no livro. O dia em que os princípios eternos da justiça divina e do dever humano serão demonstrados, o Dia do Juízo Final. Joel anuncia esse dia a Judá, como Amós o anunciaria mais tarde a Israel (Amós 1,2; 6:3 e 9:11-15). Este é o ensino principal de Joel.
2). Desta primeira descrição iriam resultar grandes ensinos, outros de caráter prático, um dos quais era o arrependimento, prometendo o Senhor que por meio deste alguns poderiam livrar-se do dia do terror. Obedecendo a Sua exortação a praga de gafanhotos seria aniquilada e seguir-se-iam bênçãos materiais e espirituais . “E vós, filhos de Sião, regozijai-vos e alegrai-vos no SENHOR vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva temporã; fará descer a chuva no primeiro mês, a temporã e a serôdia. E as eiras se encherão de trigo, e os lagares transbordarão de mosto e de azeite. E restituir-vos-ei os anos que comeu o gafanhoto, a locusta, e o pulgão e a lagarta, o meu grande exército que enviei contra vós. E comereis abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do SENHOR vosso Deus, que procedeu para convosco maravilhosamente; e o meu povo nunca mais será envergonhado”. (Joel 2:23-26):
3). Outro grande ensino do livro é o derramamento do Espírito sobre toda a carne (Joel 2:28-29). Essa profecia (Atos 2:16) seria o cumprimento de Números 11:29, a qual foi cumprida no Dia de Pentecostes, quem sabe, cumprida mas não esgotada. É semelhante à profecia de Jeremias sobre a aliança nova (Jeremias 31:31-34). Assim Joel começa a abrir o caminho ao reino da graça.

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