Santo, Santo, Santo. O louvor à Santidade de Deus



Toda Bíblia está crivada de passagens que expressam à Santidade de Deus, tanto pelo testemunho de anjos: “proclamavam uns aos outros: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória (Isaias 6:3)”; dos homens: “e eu te louvarei com a lira por tua fidelidade, ó meu Deus; cantarei louvores a ti com a harpa, ó santo de Israel” (Sl.71:22). E ainda do próprio Deus: “disse ainda o Senhor a Moisés: diga o seguinte a toda a comunidade de Israel: sejam santos porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo” (Lv.19:2).

O que significa, porém, santidade? Como esta santidade de Deus se manifesta em nosso mundo? Seria, santidade um estado de perfeição moral? E nós, afinal de contas, o que temos haver com tudo isto?


Santidade, tanto no Antigo como no Novo Testamento, é atributo que no seu sentido mais elevado, se aplica a Deus. Denota, em primeiro lugar, o fato de estar separado da criação e de estar elevado acima da mesma. Chamar Deus de Santo, é reconhecer sua transcendência, sua separação das coisas criadas. Santidade, portanto, é um termo que expressa a excelência moral de Deus, bem como sua liberdade de toda e qualquer limitação. Desta forma, Deus ao mesmo tempo se mostra separado da criação, ou seja, da corrupção e impureza do mundo. Mas ao mesmo tempo sua santidade estabelece um padrão a ser seguido. Deus que é santo convoca os homens e as mulheres que também sejam santos.


A pergunta que precisamos responder é como e onde encontramos este padrão ético que nos pode aproximar da santidade de Deus. No Antigo Testamento, após a separação entre a humanidade e Deus mencionada na narrativa de Gênesis 3, inicia-se uma longa caminhada,  de vitórias e fracassos, rumo ao reencontro àquilo que havia sido perdido. Esta longa jornada tem um momento fundamental para nossa reflexão. Os filhos e filhas de Deus se encontravam cativos no Egito (Êxodo 1), entregue a toda a sorte de corrupções e impurezas. Deus os libertou e os conduziu para fora do cativeiro rumo à Terra Prometida. Ainda no deserto, a caminho de Canaã Deus entrega a seu povo um código que deveria guiá-los na caminhada rumo à santidade.


Esse código, que nós conhecemos como dez mandamentos, é extremamente libertador. Ele revela a Santidade de Deus que convoca os homens e mulheres a uma relação de fidelidade tanto para com Ele, como também para uns com os outros. Muito poderia ser dito sobre a dimensão libertadora dos dez mandamentos, porém penso que devemos nos deter ao pano de fundo daquilo que estava acontecendo. Homens escravizando outros homens, violência e corrupção neutralizando o amor e a fraternidade, impureza de todo o tipo pervertendo as relações. Nesse momento Deus revela a sua Santidade e se aproxima, vê, ouve o suspiro dos oprimidos, e então os liberta (Êxodo 3:7-11). Para garantir que não houvesse mais corrupção entre as relações pessoais e também da humanidade para com Ele, Deus dá o código de vida, os dez mandamentos. Isso mesmo, do contrário que as vezes pensamos, os dez mandamentos são a garantia da libertação e não um principio dominador. Neles vemos manifestada a santidade de Deus que nos convoca a também sermos santos, pois o texto de Levítico 19:2 faz parte do corpo dos mandamentos.

Aqui precisamos refletir sobre nossa compreensão sobre santidade. Os sistemas religiosos tendem a tornar superficial e externo aquilo que em sua origem era profundo e amplamente integral. Isso fizeram os fariseus com relação à Lei. Tornaram-na um jugo pesado que mais oprimia que libertava. Com isso ofuscaram a santidade de Deus que outrora se manifestara através dela e assim transformaram-na  em um conjunto de leis moralistas que em nada refletia a beleza da santidade divina. Isso também fazem os religiosos de nossos dias: por um lado vemos grupos que transformaram a santidade num prêmio para depois da vida, prêmio que será entregue a alguns que por seus feitos se mostraram dignos dele (aqui galardão e canonização são a mesma coisa). Por outro lado vemos grupos em que santidade virou sinônimo de evolução em determinados comportamentos morais. Ser santo, portanto, equivale a NÃO FAZER um certo grupo de coisas (os santos e santas são os que não bebem, não fumam, não dançam, não usam roupas impróprias, não ouvem música do “mundo”...) como vemos, existe uma enorme semelhança entre os sistemas religiosos de ontem e de hoje, ambos transformam as coisas profundas em meras práticas culturais. E nós, que temos haver com tudo isso?

Como conviver em nossos dias, num mundo de tanta corrupção e impureza, com a santidade de Deus? Seria o problema de nossos dias um impeditivo para a manifestação da santidade de Deus? Vejamos o exemplo que usamos acima: Deus por ser santo não podia conviver com a opressão que a humanidade estava vivendo, por isso ele se aproximou dos seus, cuidou para que houvesse libertação e, nos deu um código de vida. Desta forma Ele nos pode convocar a sermos santos assim como Ele o é. Viver a santidade é cooperar com Deus no estabelecimento do seu Reino entre nós. E isso só é possível porque Ele mesmo se revelou santo a nós e nos deu uma direção a seguir, um plano a cumprir. Revelou-se a nós e nos convidou a ser santo como Ele mesmo é.

Que cada um de nós possamos nos aproximar de Deus através das nossas orações, jejuns, consagrações, fidelidade, e acima de tudo compromisso imparcial com a vontade e a obra de Deus. Afinal “Deus só tem compromisso com quem têm compromisso com Ele”
!

Pastor Apologista. Esdras Cabral de Melo


BIBLIOGRAFIA

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas. Luz para o Caminho. 1990.

CRÜSEMANN, Frank. Preservação da Liberdade: Decálogo numa - Perspectiva Histórico-Social.  São Leopoldo.  Sinodal. CEBI. 1995. 90p.

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