SEXUALIDADE NA BÍBLIA - ESTUDO PARA EBD

SEXUALIDADE NA ÉPOCA DOS PATRIARCAS

Rastrear a sexualidade na longínqua época patriarcal tem um atrativo especial para o leitor moderno: estamos numa cultura muito distanciada da nossa no tempo e nas suas formas de entender a vida. Então, nossos conceitos e preconceitos sobre a sexualidade vão ruir ante relatos e costumes em muitos casos antagônicos com nossa forma de proceder.
            Nosso esforço concluirá em ler os relatos a partir do contexto cultural da época, e não através de nossas idéias sobre a sexualidade, matrimonio, moral, etc.
            O que a Bíblia nos diz sobre a sexualidade dos antepassados do povo judeu ? tentaremos responder.

1.     PATRIARCADO  E  MATRIMÔNIO

Na época que nos interessa, regia o sistema patriarcal, toda autoridade, portanto, reside no patriarca, verdadeiro chefe e senhor das suas esposas, dos seus filhos e dependentes, bem como das riquezas de todo o clã. Preocupando-se não só com a proteção do clã, mas também com os casamentos dos seus filhos e filhas e ditando as normas que estabelecem a convivência interna e a segurança do clã.
O matrimônio entre os judeus era um pacto de famílias: o pai da noiva entregava a filha em troca de um dote que deveria ser devolvido em caso de divorcio, o dote é o presente, o “mohar”, enquanto a filha era solteira, era propriedade do pai e seu valor variava conforme fosse virgem ou não, daí a importância da virgindade – costume que vem de remotas épocas. Em muitas tribos árabes o mohar acontece hoje em dia.
Gênesis o livro que nos relata os episódios da época patriarcal, tem dois exemplos interessantes de casamentos – o primeiro é o de Isaac que se casa com Rebeca a narrativa está no cap. 24:1-8 o segundo é o de Jacó casando-se com duas irmãs – Lia e Raquel (Gn. 28:1-4).
Esses casamentos são para cumprir a duríssima Lei de matrimonio endogâmico da época. Leia Gn. 27:46)
O mordomo Eliezer recebe uma dupla responsabilidade, o de casar o filho do seu senhor com alguém do seu sangue e proteger Isaac para não correr risco nenhum, pois é herdeiro das promessas divinas. O mordomo jura sobre os genitais de Abraão, colocando a mão “debaixo da coxa”. Esse era costume da época, como também a circuncisão, tem uma simbologia muito particular com a expressão da própria identidade da pessoa no que de mais intimo e pessoal que ela tem. (Gn. 17:9-13)
Jurar sobre os genitais de alguém tem toda força de uma promessa que se cumprirá com a maior fidelidade.
Obs: E o amor ? poderia haver ou não ? neste caso, o texto é claro: “Isaac a amou”. O amor sempre é uma proposta do varão. A mulher correspondia a aceitação, a submissão e a fertilidade.
O matrimonio de Jacó (Gn. 29:13-20) Jacó por não ter dinheiro ou presente “mohar” tinha que trabalhar para ter Raquel em seus braços, sabendo de antemão que o esforço valia a pena: estava apaixonado... sobre o final do trabalho leia (Gn.29:21-30).
Interessante notar que, os israelitas não inventaram para si um sistema próprio de matrimonio, adaptaram-se aos costumes ancestrais – a igreja cristã dois milênios depois: não inventará um sistema especial de matrimonio, mas adotará primeiro o judeu, depois o grego e o romano, de forma que o matrimonio irá emergindo espontaneamente a partir de raízes culturais.
Assim Jacó vê-se casado com duas mulheres, irmãs entre si, coisa que posteriormente o Levítico 18:18 proibirá – já que a poligamia engendra quase inevitavelmente ciúmes e rivalidades.
A Bigamia – tinha como objetivo ter uma esposa principal e uma possível escrava concubina, sobretudo com vistas a procriação.
A Poligamia – no mundo semita vem dos tempos imemoriais e vigora ainda hoje entre os árabes mulçumanos o Corão – que permite o homem ter até quatro esposas.
A Poligamia no ambiente bíblico – sobre o direito da primogenitura (Dt. 21, 15-16)
Na época da Monarquia hebréia a poligamia é usada como um sinal da benção e privilégio, sinal de status e poder isso para as classes influentes, os pobres não poderiam ser polígamos, pois não tinham como pagar o dote e dar manutenção a família. Sobre os haréns leia 2 Cr. 11:21 e 1 Rs. 11:3.
Obs: dentro da cultura antropologia judaica, a poligamia irá desaparecendo por morte natural.

2.     DESCENDÊCIA E ESTERILIDADE

A integração da vida sexual num quadro social é uma característica de todo esse extenso período. E o tema da descendência é o melhor exemplo disso. Na época ter muitos filhos, especialmente varões, era a verdadeira Lei do matrimonio, a ponto de não haver pior ignomínia para uma mulher casada do que a esterilidade, motivo mais que suficiente para repudia-la e faze-la sofrer humilhações por toda a vida.
A Bíblia recolhe um histórico importante de mulheres estéreis: Sara, Rebeca, Raquel e Ana, em todos esses casos salvo o de Isaac, o matrimonio era bígamo.
Para uma numerosa descendência como promessa divina o que poderia frustrar essa promessa era a esterilidade. O filho nascido de uma mulher estéril, nascia pelo milagre divino para um destino fixado por Deus.
Convém lembrar-se que naquela época – há muito poucos anos – não havia a menor dúvida de a esteri8lidade ser sempre causada pela mulher – o óvulo feminino será descoberto só por volta de 1830, enquanto a esterilidade masculina só no século XX.
A promessa de Deus a Abraão – Leia Gn. 12: 1-3, mas ele cansou de esperar ao ver sua mulher que envelhecia numa humilhante esterilidade. Ler Gn. 16:1-4, aplica-se portanto,  o Código de Hamurabi – que tem tendência monogâmica – mas a Lei prevê que quando a escrava, ao ter o filho desejado, se levantar como “Rival da Senhora”; então esta não poderá mais vendê-la, mas sim marca-la e cantá-la como uma de suas escravas.
O caso mais interessante é de Jacó e suas quatro mulheres. Gn. 29:31-35, interessante é que o filho é considerado um dom de Deus o mesmo que fecundidade, enquanto a esterilidade é vivida como castigo. Um grito de rebeldia feminista, visto que Raquel reprova o marido por não lhe dar filhos Gn. 30:1-2, a solução encontrada: Raquel dá a sua serva Bila (Gn. 30:3-5)
Mas Lia não Léia não fica atrás, e com o mesmo sistema entregou a sua escrava Zilpa a Jacó e nasce dois filhos: Gade e Aser.
Ruben colhe as mandrágoras (tinha um poder de fertilidade) Raquel pede-as a Lia a mãe de Ruben em troca do direito de dormir com Jacó, pois ele amava mais Raquel e Léia teve o quinto filho Issacar e o sexto Zebulom. Interessante é que Léia aluga o marido (30:16) e depois de ter os filhos disse: “agora dominarei o meu marido, pois lhe dei seis filhos (30:20) mas Deus também lembrou-se de Raquel Gn. 29: 22-24  lamentavelmente o seu último filho lhe trouxe a morte. Veja o que diz gênesis 35:16-18.
Os doze filhos de Jacó tiveram uma benção ao nascer, mas para Dinah não houve benção nenhuma. Todo um simbolismo de desvalorização feminina que percorre todas as paginas da Bíblia e da historia do cristianismo ate os nossos dias.

Obs: era desta forma que a Era Patriarcal, apoiada sobre as tradições e leis mesopotâmicas, resolvia o problema de esterilidade: com um critério que não só pode parecer surpreendente, mas moderno. O pai aluga o ventre de uma escrava que dá luz a um filho sobre os joelhos da esposa daí então, o menino é adotado como filho legítimo.

3.     A LEI DO LEVIRATO – A LEI DOS CUNHADOS

Antes de citar o texto, adiantemos um conceito prévio: entre os hebreus vigora o sistema do levirato (Levir) cunhado. Segundo ele, se alguém morria sem descendência, seu irmão ou parente mais próximo era obrigado a se casar com a viúva para dar descendência ao seu irmão morto. Uma Lei que naturalmente oferecia resistência na hora de ser colocada em prática. Vejamos o caso de Tamar e a família de Judá com seus dois filhos: Her e Onã (ver Gn. 38:6-10).
Sobre a Lei do levirato ela esta sancionada em Dt. 25:5-10 com detalhes que apontam certa dificuldade no seu cumprimento.
Obs: a Bíblia não condena o coito interrompido com o método para regular os próprios filhos , mas a atitude de Onã para evitar que seu irmão tivesse descendência. O próprio Judá diz ao seu segundo filho: “case com a viúva de seu irmão, cumpra a sua obrigação de cunhado e dê descendência ao seu irmão (Gn. 38:8).

4.     NO CASO DE SALVAR A VIDA

Numa das suas correrias fugindo da fome, Abraão e Sara vão ao Egito, mas o patriarca andava preocupado... quando estava chegando ao Egito Abraão disse a sua mulher Sarai (Gn. 12:11-13). Tal “proposta indecente” do esposo a sua esposa. Abraão tem um plano para salvar sua própria vida, mas o que vai acontecer a esposa ? por ser tão bela e nobre certamente terminaria no harén de algum príncipe egípcio ou na própria mão de Faraó. Veja o que aconteceu (Gn. 12:14-16).
Assim, pois, Abraão não só salva a própria vida mas enriquece incrivelmente, enquanto a esposa engrossa as fileiras do harén faraônico. Mas o incidente volta a repetir-se em outra ocasião no território do Rei Abimeleque, no sul da Palestina. Sarai encontra-se novamente no harén do Rei, e se Deus não tivesse aparecido tinha se consumado a relação. Ver Gn. 20:2-4
Curioso é que Deus castiga Faraó com doenças, Abimeleque com esterilidade (20:17-18) porém a Abraão se salva pondo a sua mulher em tal situação.

5.     SITUAÇÕES LIMITES

Quem lê a Bíblia, logo surpreende-se ao comprovar quão poucas normas sexuais ela tem, em comparação aos nossos “Manuais de Moral”. O incesto é protagonizado por Ruben, o primogênito de Jacó e Lia. Quando toda a família retorna a Palestina e já havia morrido Raquel. Ruben dormiu com Bila, concubina de seu pai, Israel. E ele ficou sabendo Gn. 35:22. este fato privou Ruben da primogenitura. Ver Gn. 49:3-4.
O adultério que, assim como o incesto, é condenado em todas as culturas. Foi sempre considerado uma ofensa contra o marido e uma lesão sobre o seu direito de propriedade sobre a mulher.

Exemplos de situações limites:

1º   Caso -  José rechaça as propostas desonestas da mulher de Potifar (Gn. 39:7-12)

2º   Caso -  Dinah filha única de Jacó e Lia, vítima de violência (Gn. 34:1-3) Seus irmãos procuram vingar-se vs. 13, 26 a 30  só dois irmãos Simeão e Levi são pesados no testamento de Jacó (Gn. 49:5-7)

Obs: o que a Bíblia condena nestas situações é a desordem social que esse tipo de ato supunha para a sociedade de então casos como Incesto, adultério, sodomia, etc.


6.  SISTEMA MASCULINO E SITUAÇÃO DA MULHER

            Aludindo aos preconceitos culturais, dissemos linhas acima que a cultura bíblica tem os seus. Um deles é a leitura absolutamente masculina feita da realidade, ficando a mulher relegada a um segundo plano, nisto não se distingue aos outros povos. O caso da desvalorização da mulher e sua submissão ao homem percorre os seus primórdios até o final e chegará até os nossos dias.
Algumas Situações da mulher na cultura judaica masculina:
§  Mulher vista como mercadoria, pois é comprada “mohar”.
§  Mulher impedida de ir ao templo e ficar perto dos homens.
§  Mulher causadoras de desgraças humanas.
§  Mulher propriedade exclusiva do homem.
§  Mulher obrigada a ter filhos.
§  Mulher é mais sócia do demônio do que de Deus.
§  Mulher castigada pelo seu sexo e sua atração sexual.
§  Mulher Síndrome da Atração Fatal, desejo e castigo.
§  Mulher submissa totalmente ao marido.
§  Mulher não tem benção ao nascer.
§  Mulher não pode falar com os homens na rua.
§  Mulher não pode passar na sala quando seu marido estiver conversando.
§  Mulher vale menos que uma junta de bois e 5 escravos.
§  Mulher não tem direito de escolher nomes de filhos.
§  Mulher não pode negar o seu amor pelo homem.



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