SÍNTESE HISTÓRICA DA TEOLOGIA PENTECOSTAL
















INTRODUÇÃO 

Com o renascimento da teologia reformada no Brasil, que antes circulavam nos espaços de seminários teológicos, hoje ganha projeção principalmente nas igrejas de confissão pentecostal. Não vejo nenhuma dificuldade em estudar e conhecer a teologia reformada, até porque faz parte da história da teologia cristã, a minha preocupação é que os estudantes e interessados no assunto das diversas linhas teológicas também investiguem, analisem estudem sobre a história da teologia pentecostal que está no começo da era cristã ou seja ela é por assim dizer a primeira linha do pensamento teológico da história do cristianismo. surgindo depois dela diversas correntes teológicas ao longo desses vinte séculos. 

A ORIGEM DO PENTECOSTALISMO 

O pentecostalismo que surgiu nos Estados Unidos no início do século XX, enfatizam o batismo com (ou no) Espírito Santo como revestimento de poder subseqüente à conversão e ao falar em línguas estranhas. Outros dons ou manifestações sobrenaturais também passaram a fazer parte das reuniões pentecostais, como a cura física, as profecias e os dons de milagres e de discernimento.

Essas crenças e práticas baseiam-se no segundo capítulo do livro de Atos dos Apóstolos, quando os apóstolos, Maria (mãe de Jesus) e cerca de 120 discípulos, instruídos por Jesus, reuniram-se num cenáculo em Jerusalém para esperar a vinda do Espírito Santo prometida por Cristo. No qüinquagésimo dia posterior à páscoa, depois de esperarem por dez dias, a promessa de Jesus cumpriu-se. Lucas descreveu assim o evento:


Ao cumprir-se o dia de pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.



Quanto à origem do termo Pentecostes, o dicionário bíblico informa:


Em Levítico 23:16, a Septuaginta empregou o termo pentêconta hêmeras como a tradução do hebraico hªmishshïm yom, “cinqüenta dias”, referindo-se ao número de dias partindo da oferta do molho de cevada até ao início da páscoa. Ao qüinquagésimo dia era a festa de pentecostes. Visto que o tempo assim escoado era de sete semanas, era chamada hagh shabhu’ôth, “festa das semanas” (Êx 34:22; Dt 16:10). Assinalava o término da colheita da cevada, que tinha início quando a foice era lançada pela primeira vez na plantação (Dt 16:9) e quando o molho era movido “no dia imediato ao sábado” (Lv 23:11,12a). É festa igualmente chamada hagh haqqãçïr, “festa da colheita”, de yôm habbikkürïm, “dia das primícias” (Êx 23:16; Nm 28:26). Essa festa não se limitava aos tempos do Pentateuco, mas sua observância é indicada nos dias de Salomão (2Cr 8:13) como o segundo dos três festivais anuais (cf. Dt 16:16).



Para explicar o fenômeno ocorrido em Atos 2:12 e refutar a sugestão de que estivessem embriagados, Pedro cita a profecia de Joel 2:28-32:



E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra; sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do senhor será salvo

.



Ao longo da história, o pentecostalismo justifica as manifestações de glossolalia (falar em línguas) e outras relacionadas com fenômenos sobrenaturais citando uma variedade de textos bíblicos (At 2:16-21; 10:44-46; 19:6; 1Co 12:10).



A manifestação dos dons espirituais não esteve restrita ao livro de Atos dos Apóstolos. O fenômeno de orar em línguas, por exemplo, tem sido constatado em grupos fora do cristianismo.

A influência de movimentos periféricos



Na história do cristianismo, a busca por um contato mais íntimo com Deus passa pelo misticismo e pelo pietismo, movimentos que correm à margem da igreja oficial. A característica principal desses movimentos é a aversão às normas e doutrinas da igreja, pois entendem que o Espírito Santo revela tudo o que é necessário para a vida do cristão.



O montanismo



Foi neste movimento, liderado por Montano, que os fenômenos pentecostais encontraram ampla guarida. O movimento surgiu na Frígia, Ásia Menor romana (Turquia), por volta do ano 172,6 tendo Tertuliano como um de seus adeptos mais importantes.


Montano não tinha cargo eclesiástico e percorria os lugares acompanhado de duas mulheres, Priscila e Maximila. Por meio da voz do parácleto, manifestação profética que falava, na primeira pessoa, através das duas mulheres, promovia o que chamou “nova profecia” e conclamava as pessoas para a volta de Cristo.


Os adeptos do montanismo se consideravam porta-vozes do Espírito. Afirmavam que o fim do mundo estava próximo e que a nova Jerusalém seria brevemente estabelecida na Frígia, para onde se dirigiam os fiéis. Como preparo para a próxima consumação, passaram a pregar um asceticismo rigoroso, o celibato, jejuns e abstinência de carne. Preocupados com o avanço do movimento, os bispos da Ásia Menor se reuniram, pouco depois de 160 d.C., e condenaram o movimento.


Referindo-se a Montano, Henri Desroche afirmou: “Jerônimo, com seu estilo habitualmente rude, qualificou Montano como ‘pregador do espírito imundo, [que] com ouro, corrompeu inicialmente muitas igrejas por meio de Priscila e Maximila, duas mulheres nobres e ricas, manchando-as em seguida com a heresia’”.


Entretanto, alguns teólogos crêem que ao excluir o montanismo a igreja perdeu, pois um movimento que protestava contra o crescente formalismo e mundanismo na Igreja passou a funcionar na clandestinidade. Paul Tillich explica essa perda:


A igreja cristã excluiu o montanismo do seu seio. Contudo a vitória sobre o montanismo resultou em perda. Podemos vê-la da seguinte maneira: 1) o cânon venceu sobre a possibilidade de novas revelações. A solução do quarto evangelho de que sempre haveria novas percepções da verdade, sob a crítica do Cristo, foi, pelo menos, reduzida em poder e sentido; 2) a hierarquia tradicional triunfou contra o espírito profético. Com isto excluía-se, mais ou menos, o espírito profético da igreja organizada, levando-o a se abrigar em movimentos sectários; 3) a escatologia perdeu grande parte da importância visível na era apostólica. A organização eclesiástica passou a ocupar o primeiro lugar. A expectativa do fim reduziu-se ao apelo aos indivíduos para que se preparassem para o seu fim pessoal, que poderia vir a qualquer momento. Depois desse período, a idéia do fim da história deixou de ter importância; 4) a rígida disciplina dos montanistas foi abandonada, substituída pelo afrouxamento crescente dos costumes. O que se passou nesta época tem-se repetido freqüentemente na história da igreja. Surgem pequenos grupos com rigorosa disciplina; tornam-se suspeitos dentro da igreja; separam-se e formam grandes igrejas; em seguida, perdem o poder disciplinar original.



Com a condenação do montanismo, a expectativa da volta de Cristo foi, até certo ponto, reduzida e a operação dos dons espirituais perdeu considerável espaço na comunidade cristã. Ao invés de condenar a prática dos dons espirituais, a Igreja teria lucrado se a regulasse à luz das Escrituras. Todo segmento pentecostal equilibrado e preocupado em promover a sã doutrina procurará também regular e estabelecer parâmetros bíblicos para a operação dos dons espirituais. Teólogos pentecostais como Donald Gee, Gordon Fee e Stanley Horton, para mencionar alguns, têm demonstrado esse cuidado.


Uma das maiores razões por que a operação dos dons de enunciação inspirada é impedida, ou mesmo inteiramente suprimida, está no receio constante de errar, ou na forma de fanatismo ou de falsa inspiração. É bem fácil fazer uma lista dos vários movimentos de inspiração nas igrejas, desde o tempo do montanismo, os quais se iniciaram com a pretensão de restabelecer o dom de profecia no seu próprio lugar na Igreja, mas findaram em fracasso vergonhoso por causa dos excessos de entusiasmo, ou gradualmente cederam de novo à frieza e à incredulidade das igrejas. Onde tantos já fracassaram, ousaremos esperar bom êxito? A resposta só pode ser: “Somente pela graça de Deus”. Há uma coisa ao menos em nosso favor: podemos aproveitar os erros de nossos antepassados, para não errar [Donald Gee].



Todas as manifestações sobrenaturais — sonhos, visões, revelações, experiências pessoais ou coletivas — não têm a mesma autoridade que a Bíblia Sagrada. Esses fenômenos devem ser avaliados à luz das Escrituras, única regra de fé e prática para o cristão. Nos capítulos 12 e 14 de 1Coríntios, a Palavra de Deus fornece as instruções necessárias para a operação dos dons espirituais com o propósito de edificar o Corpo de Cristo. As manifestações do dom de profecia devem ser julgadas pela congregação (1Co 14:29) e tudo deve ser feito com ordem e decência (1Co 14:40).


Assim, se em nome do avivamento e do fervor espiritual não se pode conceder espaço para a anarquia na liturgia do culto, tampouco se pode, em nome da ordem, extinguir o Espírito. A busca de uma prática equilibrada para o funcionamento dos dons espirituais e a fidelidade à Palavra de Deus são essenciais para o desenvolvimento do ministério cristão.


A expressão “religiões pentecostais”, portanto, busca representar todas as religiões que descaracterizaram os fatos fundadores cristãos e os substituíram pela centralidade do Pentecostes, constituindo a nova referência fundadora.



Sociologicamente, o cristianismo caracterizou-se por definir suas origens em torno das doutrinas sobre Jesus Cristo. O protestantismo remetia-se ao mesmo fato fundador através da Bíblia. Já no pentecostalismo, opera-se uma mudança radical na referência ao fato fundador. O acontecimento de Pentecostes ocupa o lugar fundamental, e as doutrinas em torno de Jesus Cristo são relegadas. Os pentecostalismos contemporâneos representam uma radicalização desse distanciamento das religiões cristãs.



O pietismo


Este movimento nasceu na Alemanha protestante do século xvii e estendeu-se por toda a Europa, promovendo a fé pessoal em protesto contra a secularização da igreja.12 O movimento abraçou a “teologia do coração”, baseada nos escritos de Johann Arndt, na leitura e na meditação da Bíblia e nos hinos da liturgia luterana.


O nome que mais se destacou no movimento pietista foi o de Phillip Jacob Spener (1635-1705). Ao ver a vida decadente da cidade de Frankfurt, Spener organizou os primeiros collegia pietatis, que reuniam leigos cristãos para troca de experiências e leitura espiritual. Escreveu um clássico do cristianismo: Pia desideria, em que apresentou seis propostas de reforma da igreja:



1. Divulgação da palavra de Deus entre o povo com maior
abundância. Era, para ele, o melhor meio de melhorar a
situação da igreja.
2. Restabelecimento e prática assíduos do sacerdócio
universal de todos os crentes. Na igreja, o pastor não
detém o monopólio de falar e agir. Para poder cumprir
sua missão, precisa da colaboração ativa de todos e
todas.
3. Pregação insistente de que o cristianismo não consiste
em conhecimentos sobre a fé, mas na prática do amor
que nasce da fé.
4. Moderação nas controvérsias confessionais.
5. Reforma da formação teológica. Os futuros pastores
devem ser orientados para a vivência da fé.
6. Uma nova maneira de pregar o Evangelho. Os pastores
devem acentuar o “cerne do cristianismo”, os frutos da
fé, mais do que a doutrina.



Devido às várias correntes pietistas presentes na Alemanha, os historiadores encontram dificuldade para identificar as origens do movimento. Antonio G. Mendonça deu ênfase ao grupo dos morávios na comunidade de Herrnhut, onde se estabeleceram em 1727 a convite do conde von Zinzendorf, que mais tarde tornou-se líder e teólogo do movimento. O grupo originou-se dos hussitas da Boêmia e recusou-se a entrar para a igreja luterana, formando a própria igreja. Zinzendorf enfatizava a contemplação da cruz com bastante emoção.


Mendonça menciona outras informações importantes do pietismo que nos ajudam a estabelecer a trajetória histórica do movimento pentecostal:


O enclausuramento do crente com a sua Bíblia e a busca e o cultivo incessantes da experiência e da comunhão com Jesus levam-no à negação do mundo e ao desprezo dos prazeres da vida. Esta atitude se caracteriza positivamente pela afirmação de um valor maior, o cultivo de sua devoção, e negativamente pela consciência de que os prazeres mundanos são antagônicos aos prazeres e gozos espirituais.


Se a reforma pôs em circulação a Bíblia, foi o pietismo que introduziu no protestantismo essa característica fundamental dele, que é o apego individual à Bíblia como fonte de devoção. Mas, se o estudo da Escritura, sua interpretação literal e espiritualizada foi uma reação contra a institucionalização da religião e o correspondente escolasticismo, permitindo que uma aragem de profunda religiosidade estivesse sempre perpassando a fé protestante, constituiu-se também num poderoso obstáculo ao desenvolvimento da reflexão teológica. A teologia cheira a racionalismo, racionalismo a sistematização, e esta a escolasticismo; este poderia ser o raciocínio implícito do pietismo (...)


O espírito pietista, ao desenvolver uma antiteologia, fecha as portas da reflexão, não permite que as inquietações sociais agitem a instituição. Desse modo, a instituição, assim como a vivência religiosa do cotidiano, pode pairar acima das contradições sociais.


Por influência do movimento pietista, experiência e emoção se tornaram elementos vitais para a existência da fé pentecostal. O sucesso de um culto pentecostal ainda depende de lágrimas, de alegria ou não, de fortes exclamações de júbilo, de louvores e de muito barulho. O silêncio, qualquer que seja a duração, incomoda muito num culto pentecostal, em que é freqüente ouvir a expressão: “lugar de silêncio é no cemitério”.



O metodismo


A grande contribuição para o surgimento do pentecostalismo veio, mais especificamente, do movimento metodista, fundado no século XVIII, na Inglaterra, por João Wesley (1703-1791). Seu fundador foi influenciado pelo grupo pietista alemão denominado morávios, que pregavam a necessidade do novo nascimento e da conversão.


A experiência de conversão de Wesley, em 1738, mudaria totalmente sua vida.16 Ao ouvir, numa reunião, a leitura do prefácio do comentário do livro de Romanos, escrito por Martinho Lutero, seu coração foi “estranhamente aquecido”. Essa experiência fez dele um evangelista. Wesley mesmo declarou: “Então, foi do agrado de Deus acender um fogo que, confio, nunca se apagará”.


Com as perseguições religiosas na Europa, muitos adeptos desse movimento migraram para os Estados Unidos. A ênfase na perfeição cristã ou na inteira santificação, ensinadas por João Wesley, mais tarde receberia outros nomes: “segunda bênção” e “revestimento de poder”, por exemplo. O termo “batismo no Espírito Santo” passaria a ser usado por alguns grupos posteriormente.


Outros líderes e denominações na América do Norte seriam influenciados pelos mesmos ensinos e se encarregariam de disseminá-los. Entre estes destacaram-se Charles G. Finney, Dwight L. Moody, A. B. Simpson, Andrew Murray e R. A. Torrey.


As raízes históricas do pentecostalismo não passam apenas pela influência de Wesley e do pietismo, mas por vários movimentos religiosos: o puritanismo, George Fox e os quacres, os irmãos Plymouth e William Booth, fundador do Exército de Salvação.19 Em outras palavras, o pentecostalismo americano surgiu do aprofundamento da vida espiritual associado a João Wesley.


A Igreja Metodista se tornara tão bem-sucedida na América do Norte que perdeu muito do fervor espiritual presente no início do movimento. Em reação a esse declínio dentro do metodismo, surgiram vários grupos cristãos de orientação wesleyana, que buscavam a experiência de santificação vivida pelos primeiros metodistas.20 Donald Dayton afirma que “a constelação dessas igrejas é o elemento mais importante que prepara o terreno para o movimento pentecostal moderno”.



A origem do pentecostalismo atual



Foi em Topeka, Kansas (EUA), que surgiu o movimento pentecostal como é conhecido hoje. O pregador Charles Parham começou, em 1900, uma escola bíblica denominada Betel. Parham reuniu cerca de nove alunos para que estudassem juntos e sem o auxílio de nenhum livro além da Bíblia o tema do batismo no Espírito Santo.


Parham e seus alunos tinham uma certa ligação com o “movimento da santidade”, um grupo que tentava preservar os ensinos peculiares do metodismo de João Wesley, como a perfeição cristã e a inteira santificação. O grupo liderado por Parham buscava evidências ou prova bíblica para o batismo no Espírito Santo.



Chegaram, então, à conclusão de que a única certeza e sinal escriturístico para o batismo com o Espírito Santo era o falar em línguas. No dia 1°. de janeiro de 1901, um moço estudante estava orando durante a noite, quando experimentou de repente a paz e a alegria de Cristo, começando a louvar a Deus em línguas. Dentro de alguns dias, toda a comunidade recebera o batismo com o Espírito Santo dessa maneira e surgiu o moderno movimento pentecostal. Essa experiência, acompanhada por poderosos ministérios de conversões, curas, profecias etc., se espalhou pelo Texas e (em 1906) alcançou Los Angeles, onde cresceu substancialmente, passando para Chicago, Nova York, Londres e Escandinávia em meados de 1915.



Um aluno de Parham, chamado William Seymour, foi convidado a pregar em Los Angeles. As reuniões daquele pregador negro começaram a crescer. Suas pregações atraíam muita gente, e o fenômeno do batismo no Espírito Santo continuou a acontecer em grande escala. A experiência era sempre acompanhada de manifestações de línguas, profecias e orações em voz alta, que ocorriam junto com cânticos espirituais. Seymour era filho de ex-escravos e, apesar do contexto social extremamente hostil aos negros, ele continuou a ensinar:



Apesar das constantes humilhações, desenvolveu uma espiritualidade que resultou, em 1906, num avivamento em Los Angeles.



A maioria dos historiadores pentecostais crê ter sido esse avivamento o berço do pentecostalismo. As raízes da espiritualidade de Seymour jazem em seu passado. Ele afirmou suas raízes negras ao introduzir, na liturgia, os negro spirituals e a música negra numa época em que essa música era considerada inferior e imprópria à adoração cristã. Ao mesmo tempo, ele viveu firmemente o que compreendia ser o Pentecostes. Para ele, o Pentecostes significava mais que falar em línguas. Significava amar a despeito do ódio — vencendo o ódio de uma nação inteira ao demonstrar que o Pentecostes é algo muito diferente do estilo de vida americano de sucesso.



No avivamento de 1906, em Los Angeles, bispos brancos e trabalhadores negros, homens e mulheres, asiáticos e mexicanos, professores brancos e lavadeiras negras, todos eram iguais. A imprensa religiosa e a secular acompanhava todos os detalhes. Sem conseguir entender o que se passava, preferiram ridicularizar, atacando Seymour: “pode vir algo bom de um autodenominado profeta negro?”.


As principais denominações também criticaram o emergente movimento pentecostal, desprezando seus seguidores devido à origem negra e humilde. Pressões sociais surgiram, tentando discriminar suas igrejas entre as organizações negras e brancas, como outras igrejas já vinham fazendo.


Tudo isso, porém, não conseguiu impedir o crescimento do pentecostalismo. De Los Angeles, o movimento espalhou-se por muitas cidades norte-americanas e depois pelo mundo todo. Nos Estados Unidos, Chicago desenvolveria um importante papel na exportação do fenômeno pentecostal para o Brasil. A cidade tornou-se uma rota missionária para três pregadores que lançariam as bases para o movimento pentecostal em solo brasileiro: Louis Francescon (fundador da Congregação Cristã no Brasil), Daniel Berg e Gunnar Vingren (fundadores da Assembléia de Deus).


Muitas igrejas foram formadas, sendo a Assembléia de Deus a maior delas. Mais tarde, o pentecostalismo tornou-se fator importante para a formação de outro grupo na América do Norte, que também alcançaria proporções mundiais, e que seria conhecido como “movimento carismático”. Com ênfase no batismo do Espírito Santo e na glossolalia, esse movimento passaria a existir em quase todas as denominações evangélicas tradicionais, preparando o caminho para o futuro movimento neopentecostal.



O pentecostalismo no Brasil



O pentecostalismo surgiu no Brasil em 1910, com a Congregação Cristã no Brasil, e hoje representa o maior segmento da comunidade evangélica. Até os anos 1950, os pentecostais não chamavam muito a atenção. Entretanto, sua extraordinária expansão, a crescente visibilidade nos meios de comunicação e seu envolvimento com a política fizeram do movimento objeto freqüente de estudo dos pesquisadores da religião.


O censo de 2000, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmou o significativo crescimento dos pentecostais no país nas últimas décadas. De acordo com os dados levantados, o número de evangélicos no Brasil chegou a 26 milhões de adeptos.
Em 1991, os pentecostais e neopentecostais eram 8,1 milhões. Em 2000, esse número subiu para 17,6 milhões,26 assim distribuídos: Assembléia de Deus com 8,4 milhões; Congregação Cristã no Brasil com 2,4 milhões; Igreja Universal do Reino de Deus com 2,1 milhões; outras igrejas pentecostais com 1,8 milhão; Igreja do Evangelho Quadrangular com 1,3 milhão; Igreja Pentecostal Deus É Amor com 774,8 mil27 e O Brasil para Cristo com um milhão de membros.28



Congregação Cristã no Brasil — CCB


O movimento pentecostal surgiu no Brasil com a Congregação Cristã no Brasil,29 fundada por Louis Francescon, de origem italiana. Em 1890, depois de cumprir o serviço militar, mudou-se para Chicago, nos Estados Unidos. No mesmo ano, ele ouviu o evangelho através de Miguel Nardi, converteu-se no ano seguinte e passou a congregar, como diácono, numa igreja presbiteriana.


Em 1907, Francescon entrou em contato com o movimento pentecostal por um pastor norte-americano chamado William Durham, que havia recebido o batismo no Espírito Santo em Los Angeles, em 1906. Francescon juntou-se ao grupo de Durham, que anunciava a promessa do Espírito Santo.


Em 1909, por revelação espiritual, Francescon, G. Lombardi e Lucia Menna embarcaram para Buenos Aires e, em 1910, chegaram a São Paulo. No dia seguinte, conheceram um italiano, ateu, chamado Vicenzo Pievani, que mais tarde se converteria junto com a esposa e mais nove pessoas. O batismo dessas onze pessoas marcou o que Francescon chamou de “as primícias da grande obra de Deus naquele país”.



Ao longo de sua existência, a Congregação Cristã no Brasil permaneceu imutável quanto à forma de governo, à estrutura eclesiástica e ao modus vivendi. Dentre suas principais características destaca-se a ausência de clero assalariado. Conforme seu regimento interno de 1948: “todo servo de Deus deve trabalhar para o seu sustento material. Não dependendo da irmandade, pode agir com mais franca imparcialidade em todos os casos que se apresentarem”.


O mencionado regimento também proíbe a participação, em cultos e reuniões, de pessoas portadoras de doenças contagiosas; a leitura de material “estranho”, já que as Escrituras contêm tudo o que se precisa, individual e coletivamente, e a participação de seus fiéis em cultos de outras igrejas.


A Congregação não admite cerimônias religiosas em casamentos, tolerando-se apenas uma oração, que pode ser feita por qualquer irmão presente, quando não houver ancião, cooperador ou diácono, pois isso não faz parte do ministério. Tampouco se admitem certos costumes, como a vigília do primeiro dia do ano com cantos e orações, e outras solenidades para comemorar festas materiais.


O serviço em funerais deve ser julgado de acordo com o momento. O corpo não deve ser levado à casa de oração por constituir hábito e imitação de costumes mundanos, que não se fundamentam na fé apostólica e na palavra de Deus.


A Congregação também não permite partidos políticos de espécie alguma. Por ser uma determinação legal, cada um é livre para cumprir seu dever de votar. Entretanto os remidos pelo sangue do concerto eterno não podem votar em partidos que neguem a existência de Deus e sua moral. Os que ocupam cargos no ministério não devem aceitar encargos políticos. Nas dependências da igreja não é permitida propaganda nem visitação de candidatos a cargos políticos.


A igreja também não possui jornais, propaganda nem literatura religiosa. Tampouco se corresponde com os que os editam, pois “outras luzes não precisamos, nem queremos. O tempo muda sempre, porém a palavra de Deus é imutável; mudam os homens, porém o Senhor é o mesmo, eterno e fiel”.


Diferentemente de outros grupos evangélicos ou pentecostais, a ccb não publica literatura nem divulga informações a respeito de sua atuação, o que dificulta uma pesquisa mais acurada sobre essa denominação.



Assembléia de Deus — AD


Maior denominação evangélica brasileira das últimas décadas, a Assembléia de Deus foi fundada por dois missionários suecos, Gunnar Vingren e Daniel Berg, que vieram ao Brasil via Estados Unidos.


Gunnar Vingren recebeu o chamado de Deus para sua vida aos nove anos de idade.31 Em 1896, aos dezessete anos, passou por um processo de reconversão, depois de um período afastado da fé. Em junho de 1903, ele foi atingido pelo que ele denominou “febre dos Estados Unidos”. Depois de passar por outras cidades norte-americanas, foi a Chicago estudar no seminário teológico dos batistas suecos.


No verão de 1909, sentiu um forte desejo de receber o batismo com o Espírito Santo e com fogo. Depois de cinco dias de busca, numa conferência na Primeira Igreja Batista Sueca, em Chicago, ele recebeu o que buscava. Ao pregar o batismo do Espírito Santo em sua igreja, esta ficou dividida e Vingren foi obrigado a deixar o pastorado da igreja.


Vingren foi para uma igreja em Indiana, onde foi influenciado por Adolfo Ulldin, um fiel que tinha visões, falava pelo dom de profecia e revelou vários segredos sobre o futuro de Vingren. Ele conta que foi por meio desse irmão que o Espírito Santo lhe disse para ir ao Pará, onde pregaria o evangelho para um povo muito humilde. Foi preciso ir a uma biblioteca para descobrir que o Pará fica no norte do Brasil.


Nesse momento, Vingren já havia conhecido Daniel Berg, seu futuro companheiro de missões, pois também ele recebera o chamado para vir ao Brasil, e ambos prepararam-se para a viagem.
No Brasil, foram recebidos por uma igreja batista.32 Assim que aprenderam um pouco da língua, começaram a evangelizar e a disseminar a doutrina pentecostal, principalmente o batismo no Espírito Santo com o falar em línguas.


A pregação de Vingren e Berg encontrou receptividade por parte de alguns e resistência por parte de outros. Entre os dezenove membros da igreja batista que creram na nova doutrina estava Celina de Albuquerque, considerada a primeira pessoa em solo brasileiro a receber a experiência pentecostal. Em junho de 1911, eles deixaram a igreja batista e fundaram uma igreja denominada Missão de Fé Apostólica.


Os assembleianos dividiram sua história em quatro períodos. O primeiro período vai de 1911 até 1924, tendo como fatos principais a aquisição do primeiro templo, a publicação do primeiro periódico pentecostal brasileiro, denominado Voz da verdade, e o início do trabalho missionário da denominação, com o envio de José de Matos a Portugal, em meados de 1913.


O segundo período vai de 1924 a 1930 e destaca o crescimento da igreja em todo o estado do Pará. Nessa época, foram instituídos o diaconato e o presbiterato na denominação. O terceiro período vai de 1930 até 1950 e destaca a colaboração da igreja do Pará com as construções de templos nas cidades de São Luís (MA), Manaus (AM), Teresina (PI) e Porto Velho (RO).
O quarto e último período vai de 1950 até os dias atuais, quando acontece uma expansão ainda maior da denominação. Em 1961, o movimento pentecostal brasileiro já contava com um milhão de membros.


Por mais de quarenta anos, a Congregação Cristã do Brasil e a Assembléia de Deus reinaram absolutas no pentecostalismo brasileiro, sem se preocupar com a “concorrência”. O que caracterizou essa fase do movimento, denominada primeira onda, foi a oração em línguas. Somente a partir de 1950, um segundo grupo de igrejas pentecostais surgiria no Brasil, com ênfase na cura divina, sem, porém, desprezar o orar em línguas.



Igreja do Evangelho Quadrangular


O primeiro movimento a surgir no Brasil dentro da segunda onda do pentecostalismo foi a Igreja do Evangelho Quadrangular. Importada de Los Angeles, a igreja foi fundada em São Paulo, em 1951, pela canadense Aimee Semple Mcpherson. Aimee converteu-se em 1907, numa reunião de avivamento dirigida por um jovem evangelista pentecostal chamado Robert Semple, com quem mais tarde se casaria. Logo depois de sua conversão, ela foi batizada no Espírito Santo e falou em línguas estranhas.


Aimee foi missionária na China, mas retornou aos Estados Unidos depois da morte do marido. Lá trabalhou com a mãe no Exército de Salvação. Depois do fracasso do segundo casamento, ela ainda passou pela igreja metodista episcopal, pela igreja batista e, por último, pela Assembléia de Deus. Então, em janeiro de 1923, fundou a Igreja do Evangelho Quadrangular, em Los Angeles.


O nome “quadrangular” tem uma razão:



Pregando com base no texto de Ezequiel 1:4-28, que descreve uma criatura com quatro faces, ela [Aimee] viu naquela passagem quatro doutrinas principais. Elas eram simbolizadas no homem, no leão, no boi e na águia, e se tornaram o centro de seu ministério. Aimee disse que todos representavam Jesus: a face do homem era Jesus como Salvador; o leão era Jesus como o batizador no Espírito Santo; o boi era Jesus, aquele que cura; e a águia era Jesus como o rei que virá. Assim nasceu a teologia e o nome de uma das principais denominações pentecostais, que ministra hoje em 55 nações do mundo.


A Igreja do Evangelho Quadrangular chegou ao Brasil sete anos após a morte de sua fundadora. Campos Jr.38 relata que o pentecostalismo já havia atingido a América do Sul, quando Harold Williams, que fora missionário na Bolívia, trouxe o movimento para o Brasil. As atividades da igreja foram iniciadas em São João da Boa Vista (SP), em 1951, transferindo-se depois para a cidade de São Paulo.


Em 1953, Williams começou a expansão da obra usando uma estratégia diferente da de outras igrejas — as tendas de lona —, que recebeu o nome de Cruzada Nacional de Evangelização.



A ênfase na cura divina funcionou como mola propulsora para o crescimento da denominação.



A principal preocupação teológica do pentecostalismo é o Espírito Santo e seus dons. A declaração de fé da Igreja Quadrangular ilustra este reducionismo doutrinário. Ele se preocupa pouco com os grandes temas teológicos clássicos. Estão ausentes vocábulos como “trindade”, “encarnação”, “procedência do Espírito” e outros, sem se negar, contudo, as doutrinas por eles representadas. Modifica significantemente a tradicional formulação protestante da “justificação pela fé” para justificação por “arrependimento e aceitação”. Toda a ênfase cai nos quatro “ângulos”: salvação em Cristo, o batismo no Espírito Santo, a cura divina e a iminente vinda de Cristo e suas conseqüências.

O Brasil para Cristo


Depois da Igreja do Evangelho Quadrangular, surge no Brasil a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo, a primeira igreja pentecostal genuinamente brasileira, fundada em São Paulo, em 1955, por Manoel de Mello. A denominação surgiu a partir de atividades evangelísticas, como o programa de rádio A voz do Brasil para Cristo.


A igreja não escapou de perseguições — seus galpões foram depredados e incendiados e houve até abertura de processo por charlatanismo e curandeirismo, movido contra Manoel de Mello, que, no entanto, foi absolvido. Em 1980, a igreja inaugurou um templo com capacidade para cerca de dez mil pessoas.



Deus É Amor


Outro movimento de forte expressão no mundo religioso, a Igreja Pentecostal Deus É Amor foi fundada pelo missionário David Martins Miranda, em 1962. Em sua autobiografia, Miranda relata como Deus lhe falou para fundar a igreja enquanto orava, de joelhos por mais de três horas:


Todas as noites, quando eu orava ao Senhor, sentia o fogo divino do Espírito Santo, e isso para mim já era algo normal de acontecer. Mas naquela noite eu estava me sentindo de uma maneira diferente.


Não existem palavras que possam descrever o que eu sentia naquele momento (...). Jamais uma criatura humana pode sentir algo parecido, a menos que esteja em contato íntimo com Deus. Lembrei-me da expressão de Jacó, que dissera: “Este lugar não é outro, senão, a morada do altíssimo” (Gn 28:10-17). Eu me maravilhava com o som que podia ouvir. Sim, naquele instante eu ouvia vários sons celestes. Aleluia! Algo glorioso acontecia. (...).


De repente, uma voz se fez ouvir acima daqueles sons diversos. Era uma voz com o som de muitas vozes, e ouvi que me dizia: “Meu servo, não temas as lutas, pois te escolhi e grande obra tenho a fazer por teu intermédio. Muitos se levantarão contra ti, mas não prevalecerão. Aqueles que forem contigo, eu serei com eles, mas aqueles que forem contra ti eu serei contra eles (Gn 12:3). Por isso, não temas as lutas e perseguições, porque grande obra eu tenho a fazer por teu intermédio. Eu enviarei povos e nações para que, através de ti, eles sejam curados por mim.” Eu não disse nada em palavras naquele instante, e mesmo que tentasse dizer alguma coisa, não conseguiria. Porém, no meu pensamento, eu perguntava: “Senhor, esta obra será realizada através da igreja a que pertenço ou através de outra? E ele me disse: “eu darei o nome da igreja”.
Não contei a ninguém esta minha conversa especial com o Senhor; e por muito tempo ninguém soube do ocorrido entre eu e Deus num momento de plena comunhão. Continuei a buscar a Deus pelas madrugadas, pedindo a ele que me dissesse o nome da igreja, como prometera, para que eu fosse congregar nela; porque eu queria que sua promessa se cumprisse logo em mim. Eu esperava que ele dissesse o nome de alguma igreja já bastante conhecida e abençoada. E qual não foi a minha surpresa quando, após 21 dias de oração, ele me disse o nome: Deus é amor.


Depois que recebi o nome da igreja, fui procurá-la, e fiz isso incansavelmente, mas não conseguia encontrar. Já pensava até que deveria ser uma igreja em outro estado que não o de São Paulo. Foi quando Deus me orientou, dizendo, através de divina revelação do Espírito Santo, que eu deveria fundar uma igreja e colocar-lhe esse nome. Obedecendo a ordem do Senhor, entreguei a congregação da qual tomava conta (...), e sem dizer nada a ninguém, nem ao menos ao pastor dirigente, dei início ao trabalho de fundação de uma nova igreja.


David Miranda construiu um ministério com posturas bastante radicais. Embora em seus programas de rádio dirija-se aos “irmãos católicos, espíritas e evangélicos”, rejeita interação com qualquer grupo religioso. O radicalismo da denominação pode ser observado em seu rigoroso código de usos e costumes.


O regulamento interno demonstra também seu antagonismo às demais denominações cristãs. Não é permitido aos membros, por exemplo, fazer curso de teologia e outros cursos bíblicos nem aprender a tocar instrumentos em outras igrejas.


As proibições, no entanto, não estão restritas apenas ao que vem de outras igrejas. Não é permitido aos membros possuir aparelho de televisão; usar videocassete; tomar anticoncepcional nem usar preservativos; ingerir bebidas alcoólicas.


Ninguém pode assistir aos cultos trajando “roupas escandalosas”, short ou bermuda, a menos que se cubram com aventais ou panos; as mulheres não podem usar calças compridas, em hipótese alguma, nem cinto com mais de dois centímetros e desde que sejam de couro ou pano. Pessoas epilépticas são aceitas na ceia apenas se apresentarem atestado médico, caso contrário serão suspensas até serem libertas.


O regimento também proíbe a venda de discos, nas dependências da igreja ou em frente a ela, de outras gravadoras. Só é liberada a venda de discos da gravadora pertencente à igreja.
Desde sua fundação, a igreja cresceu aceleradamente, e hoje possui mais de oito mil igrejas em quase 140 países. Embora David Miranda tenha sido acusado de envolvimento com lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas e narcotráfico, as denúncias não foram confirmadas.


Durante a segunda onda do pentecostalismo, várias igrejas tradicionais se renovaram, dando origem à Batista Nacional, fundada por Enéas Tognini, à Presbiteriana Renovada, à Metodista Wesleyana e a várias comunidades evangélicas espalhadas pelo Brasil.


O terreno tornava-se cada vez mais propício para a chegada e a expansão do neopentecostalismo, e a Igreja de Nova Vida, no Rio de Janeiro, cooperou muito para inaugurar essa nova faceta da igreja evangélica brasileira.



Igreja de Nova Vida


Fundada pelo bispo Roberto McAlister, a Igreja de Nova Vida foi o agente catalisador do neopentecostalismo no Brasil. McAlister, canadense de nascimento, converteu-se em 1948, aos dezessete anos de idade.43 Fez várias visitas ao Brasil até fixar residência, com a família, em 1959. Seu ministério teve início no Rio de Janeiro, através do rádio. O programa fez tanto sucesso que foi necessário conseguir um local para reunir os interessados.


Em 1961, foi realizado o primeiro culto na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio. A partir de então, o crescimento foi constante. McAlister enfatizava a cura física e a libertação espiritual, a ponto de fixar no púlpito um cartaz com o seguinte versículo: “Ele perdoa todas as tuas iniqüidades e sara todas as tuas enfermidades” (Sl 103:3).


Mais tarde, McAlister foi para a televisão. Em 1968, publicou um folheto intitulado Mãe-de-santo: História e testemunho de d. Georgina Aragão dos Santos Franco — a verdade sobre a umbanda e o candomblé, em que contava a trajetória de d. Georgina do culto afro para a fé evangélica. McAlister publicou vários outros livros, entre os quais um tratado sobre demonologia intitulado Crentes endemoninhados: A nova heresia, em que refuta a idéia de o cristão ser possuído por demônios.


Até sua morte, em 1993, Roberto McAlister enfatizou a doutrina do dízimo e da mordomia cristã, a ponto de escrever um livro intitulado Dinheiro: Um assunto altamente espiritual, no qual faz a seguinte declaração:


Durante mais de 25 anos de ministério sem falhar uma única vez, tenho assumido o púlpito com duas coisas preparadas: minha mensagem bíblica e o apelo para as ofertas. Pois eu sempre soube que nenhuma das duas pode ser improvisada, resultando quase sempre a improvisação em fracasso.


Da Igreja de Nova Vida saíram os principais líderes do neopentecostalismo brasileiro, como Edir Macedo, R. R. Soares e Miguel Ângelo, fundador e líder do ministério Cristo Vive. A demonologia de McAlister e sua visão sobre o dinheiro ganhariam, no neopentecostalismo, uma roupagem diferente. Texto adaptado do livro "Decepcionados com a Graça"  de Paulo Romeiro 

Nenhum comentário:

Postar um comentário