Teologia do Sofrimento


SUBSÍDIO TEOLÓGICO PARA A LIÇÃO DA EBD - VENCENDO AS AFLIÇÕES DA VIDA 


1. Questionamento. Por que o cristão tem que passar por dificuldades? Afinal, Cristo já não venceu tudo na cruz? Ele já não nos sarou, não nos curou, não nos perdoou, não nos redimiu, não nos salvou? Ele já não venceu, inclusive, a morte? Por que então temos ainda que sofrer de tantas maneiras? Por que até o presente momento padecemos física, emocional e espiritualmente? Questionamos isso de forma indignada, quase em todos os momentos difíceis que passamos na vida.

2. Questionamento. Por que estou neste trabalho, onde não reconhecem meu esforço? Por que ainda estou solteiro? Por que meu casamento está tão difícil?  Por que não consigo me dar bem nos estudos? Por que, se estou trabalhando para Deus, tenho que conviver com erros? Por que tenho que enfrentar a dor, a doença, a perda etc.? Por quê? Por quê? Por quê? Será possível encontrarmos as respostas para tantos e tão variados questionamentos? Bem, se somos cristãos, a resposta é sim, afinal temos uma fonte que pode, e deve nos orientar. Esta fonte é, obviamente, a Bíblia que, em sua sabedoria, ensina-nos claramente dos porquês das tribulações.

A palavra grega “thlipsis” (pronuncia-se “thlipsis”), significa “tribulação”. Ela aparece, em muitas de suas variações, mais de cinquenta vezes no Novo Testamento, e tem sinônimos como: “adversidade, contrariedade, aflição, amargura, tormento, pressão, contrariedade, angústia, aflição, amargura e tormento”. Além disso, em pelo menos metade de suas ocorrências neotestamentárias, refere-se a cristãos. Ou seja, em muitos casos são os crentes que estão padecendo tribulações.

O mais incrível das tribulações é que, felizmente (e não infelizmente, como alguns pensam), elas fazem parte de nossas vidas. O próprio Senhor Jesus foi taxativo neste sentido: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo” (João 16:33). Tudo bem que Jesus disse que, nesta vida, não teria jeito: Nós, necessariamente passaríamos por momentos difíceis. Afinal, o mundo jaz no maligno, o diabo e seus capangas continuam ativos e ainda estamos enclausurados em corpos corruptíveis. Mas por que “felizmente” passamos por adversidades? Isso não é uma incoerência? 

À luz da Palavra de Deus, não. Várias são as ocasiões em que somos exortados sobre a necessidade das contrariedades. Lucas escreveu sobre isso: “Fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14:22). Paulo também o fez: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança” (Rm. 5:3). “A fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto” (I Ts. 3:3). “A tal ponto que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, à vista da vossa constância e fé, em todas as vossas perseguições e nas tribulações que suportais” (II Ts.1:4).

A Palavra de Deus jamais nos ensina que, pelo fato de termos entregue nossas vidas a Cristo, estaremos, durante toda nossa existência terrena, imunes a tormentos financeiros, físicos, emocionais e, até mesmo, espirituais. É verdade que muitos, de maneira errônea e descontextualizada da Palavra de Deus, têm afirmado o contrário. Não são poucos os que dizem que, se estamos sofrendo em algum destes níveis, há algo de errado com nossa fé, ou há algum tipo de “demônio” em nosso meio, ou ainda, estamos em pecado. Isso é muito original dos que professam equivocadamente  a ‘‘Teologia da Prosperidade’’. Apesar de, em algumas ocasiões, os sofrimentos terem causas específicas, esta não é uma regra. E estes que assim ensinam estão fora do princípio geral das Escrituras. É sempre mais fácil deduzir que  quando alguém está passando por provações, a primeira coisa que vem em mente é ‘‘pecado’’, insinuando que o que sofre não confessou, não foi perdoado. Como fizeram os amigos de Jó, depois de contemplar o seu estado deplorável por sete dias, em silêncio, chegando à conclusão de que foi pecado. ‘‘Se intentar alguém falar-te, enfar-da-ás?...’’ (Jó. 4.2). Elifaz supõe que sua palavra vá ofender a Jó, e, portanto, pede desculpas de antemão. Ele insinuará que o sofrimento de Jó veio por causa de seus pecados.

A verdade é que, por incrível que pareça, nós precisamos das tribulações. Como vemos na Palavra de Deus, carecemos das tormentas em nossas vidas. Temos necessidades delas, pois através delas “permanecemos firmes na fé”; é por meio delas que “nos importa entrar no reino de Deus”; é também “a tribulação que produz a perseverança”. Na realidade, e por mais contraditório que isso possa parecer, nós devemos dar graças ao Pai pelas “tribulações que suportamos”, pois elas produzem “constância e fé”. Enfim, nós “estamos designados para isto (tribulações)”. 

Ao contrário do que se pensa, a vida em Cristo também é construída por meio de muitas adversidades. Eu tenho aprendido isso, não porque sofra muitas adversidades, mas sim com apenas algumas “pequeníssimas” tribulações que tenho padecido. Mas é bom saber o que diz a Bíblia sobre isso: ‘‘Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo’’ (Jo. 16.33). O segredo é ter ‘‘bom ânimo’’ para vencer as muitas adversidades.

E estas aflições são tão “insignificantes”, perto do que o Jesus e seus os apóstolos sofreram, que dá até vergonha de me referir à elas como “tribulações”. Entretanto, por mais simples que possam ser, entendo que elas fazem parte de meu crescimento espiritual, como também faz parte do seu crescimento espiritual. Não existe provação sem causa ou por acaso, todas elas tem uma causa. Diante disso, é importante que todos nós, saibamos que as tribulações fazem parte de nossas vidas. Elas operam em nós a perseverança, e fazem com que pratiquemos o que os sinônimos da palavra (perseverar) revelam: “conservemo-nos firmes e constantes; persistamos, prossigamos, continuemos mantenhamos, perduremos, subsistamos, tenhamos firmeza; permaneçamos sem mudar ou sem variar de intento”. É “fácil”? É claro que não! Todavia foi exatamente para isso que fomos chamados! Certo dia, veio a mim, uma irmã, e falou-me de suas dores. Diante de tudo que ela me falou por duas horas, eu só disse uma palavra e nada mais: ‘‘Suporte’’. Dentro desta palavra existem significados, ao ponto de que a citada irmã dissesse: ‘‘pastor era tudo que eu queria ouvir’’. Ela entendeu que: luta vem e passa, aflição vem e passa, sofrimento vem e passa. O que de fato deve permanecer em nós é a Fé movida de esperança em nosso Redentor.

Mas, até quando? Será que estas minhas aflições terão que perdurar muito*? Ninguém melhor do que o nosso Senhor e Salvador para nos responder esta questão: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 24:13). “Até o fim”, longe não? Por isso é importante que todos nós “estejamos plenamente certos de que Aquele que começou boa obra em nós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6). Glória a Deus. Amém!


*Paulo escrevendo aos irmãos em Corinto na II carta, disse: ‘‘porque a nossa leve e momentânea tribulação produz em nós eterno peso de glória, acima de toda comparação (2 Co. 4.17). Isso é muito profundo, Paulo e tantos outros apóstolos e cristãos, sofreram ataques insuportáveis seguidos de morte cruéis, mais afirmou: leve e momentânea tribulação. E quantos reclamam por que tem que trabalhar na segunda-feira.   





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