Obadias - Profeta Crítico


- O Livro - Obadias é o livro mais curto do Velho Testamento, tendo apenas 21 versículos. Não é citado no Novo Testamento e neste não há referência alguma a Obadias. Mesmo sendo breve, Obadias é um livro difícil, com uma dificuldade nada proporcional ao seu tamanho.

II - O Autor - Obadias não tem uma história pessoal. Sem dúvida o seu nome, cujo significado é “Adorador de Javé”, é sugestivo. Esse era um nome muito comum entre os semitas, especialmente após o cativeiro. Compare-se com Abdiel “Servo de Javé” (1 Crônicas 5:15) e com Abdala (nome árabe), que significa “Servo de Deus”. Esforços têm sido feitos no sentido de identificar o profeta Obadias com alguns outros homônimos, em número de doze ou mais, no Velho Testamento, como por exemplo:

1. Obadias, o mordomo do palácio de Acabe, o qual escondeu os profetas de Javé em duas covas - cinqüenta em cada cova (1 Reis 18:3-6).

2. Obadias, o mestre da Lei enviado por Josafá entre as cidades de Judá (2 Crônicas 17:7).

3. O “homem de Deus” no tempo de Amazias, o qual aconselhou o rei a não permitir que o exército de Israel do Norte o acompanhasse na luta contra os edomitas (2 Crônicas 25:7).

4. Obadias, um dos superintendentes empregados no reparo do templo, sob o reinado de Josias (2 Crônicas 34:12). Para o nosso profeta, sem dúvida, “sua obra era mais importante que o obreiro e por causa dessa obra ele permitiu que a sua personalidade fosse relegada ao fundo”.

III - A Mensagem - Toda a mensagem de Obadias pode ser resumida em duas frases: 1. A destruição de Edom (versos 1-16). 2. A restauração de Israel (versos 17-21). Sem dúvida o profeta dirige suas palavras, não tanto como uma admoestação a Edom, mas como uma mensagem de consolo a Israel. O livro pode ser assim dividido:

1. A ruína de Edom, mesmo estando abrigada com segurança em meio às serras rochosas (Versos 1-9).

2. Os motivos, isto é, a sua crueldade com Israel e o seu regozijo pela adversidade de Judá (Versos 10-14).

3. A retribuição divina a Edom e a restauração de Israel.

IV - Data - Visto como o livro não é introduzido com uma data histórica ou cronológica, o que permitiria determinar a sua data, precisamos nos valer das evidências internas. Desse modo, muitas datas divergentes têm sido sugeridas, datas que se estendem desde o tempo de Jorão, rei de Judá (850 a.C), em cujo reinado os filisteus e árabes atacaram Jerusalém, tendo levado os tesouros do palácio real (2 Crônicas 21:16-17), até 312 a.C, quando os nabateus tomaram Edom e Antígono ordenou que fosse enviada uma expedição contra eles. Vários fatores entram na decisão deste assunto:

1. O lugar de Obadias entre os Doze - No Hebraico ele é o quarto, seguindo esta ordem: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, etc. No Grego ele é o quinto: Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias, Jonas, etc. Isso mostra claramente que os organizadores do Cânon (200 a.C) consideravam Obadias como primitivo.

2. A unidade do livro - sacrificada pelos que o colocam depois. Contudo pode ser possível o caráter composto de um livro, mesmo tão curto, como é o caso deste.

3. O caráter vivo dos versos 10-14 – os quais parecem descrever como história a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C. Elmslie diz: “Não é apenas um estado arruinado, ou uma capital parcialmente saqueada que aqui têm sido descritos, mas uma nação desmembrada, despojada e dispersa”. Claro que não se trata do juízo universal. O teólogo Pusey, por exemplo, crê que estes versos são uma predição, em vez de uma descrição da ruína de Jerusalém. Outros acham mais apropriado um lugar apropriado para estes no reinado de Acaz (731 a.C), quando freqüentes calamidades sobrevieram a Judá:

1. - Rezim, rei da Síria, livrou Elate dos judeus, lançando-os para fora e permitindo que os edomitas ali residissem (2 Reis 16:6 - Septuaginta).

2. - Peca, rei de Israel, matou 120 mil judeus e levou 200 mil em cativeiro (2 Crônicas 28:6-8).

3. - Zicri, homem poderoso de Efraim, matou Maasias, o filho do Rei (2 Crônicas 28:7).

4. - Os edomitas vieram a Judá e levaram presos em cativeiro (2 Crônicas 28:17).

5. - Os filisteus também invadiram várias cidades da campina e do sul de Judá (2 Crônicas 28:18).

6. Acaz tomou até os tesouros do templo, a fim de pagar tributo ao rei da Assíria (2 Reis 16:8).
Sem dúvida, condições como estas podem muito bem explicar a descrição feita por Obadias da calamidade de Jerusalém como “infortúnio”, “ruína” e “angústia” (Verso 12). É bem provável, portanto, que essa profecia tenha sido feita no século 8.

V - Edom - Como já foi dito, Obadias profetizou a respeito de Edom e mais particularmente contra a cidade rochosa de Edom, conforme o verso 3: “A soberba do teu coração te enganou, como o que habita nas fendas das rochas, na sua alta morada, que diz no seu coração: Quem me derrubará em terra?”

As rochas a que ele aqui se refere são quase na certa as de Petra, a qual, desde os tempos mais remotos, era a fortaleza central da nação. Os árabes modernos a chamam de Wady Musa. Os antigos sírios, segundo Josefo, a chamavam de Requém, por causa de Requém, o príncipe midianita que caiu numa batalha contra Israel, em Moabe, nos dias de Finéias, [quando também foi morto Balaão, o profeta filho de Beor] (Números 31:8). Pela sua situação e beleza natural, Petra é única entre todas as outras cidades da terra. É quase impossível descrevê-la adequadamente. Sua situação bem abaixo e em meio às montanhas de Seir, rodeada de todos os lados por rochas coloridas, de uma beleza e grandeza inigualáveis, fizeram de Petra uma das maravilhas do deserto. Nela se entra por uma garganta estreita, com mais de um quilômetro de extensão, chamada Sik ou fenda. Esse desfiladeiro é uma das avenidas mais formosas e românticas do gênero em toda a natureza, com um pequeno arroio ao fundo, em quase toda a sua extensão. A garganta é estreita e profunda, sendo por vezes tão reduzida que fica quase às escuras em pleno meio dia. As rochas que a limitam são formosas, ostentando quase todas as cores do arco-íris. Ao sair da mesma, em grande planície (com mais de um quilômetro de extensão por 2/3 de quilômetro de largura), o explorador se depara com moradias cortadas na rocha, sepulcros, templos e outras escavações, por todos os lados. Centenas destes em sua maior parte são, de fato, mausoléus originais, cortados literalmente na sólida rocha granítica. As ruínas de um castelo, de edifícios e dos arcos de uma ponte, além de colunas, são vistos espalhados ao fundo do sítio da cidade. As cores das rochas aumentam imensamente o atrativo do local. A natureza tem organizado em faixas alternadas as cores mais belas, tais como o roxo, púrpura, alaranjado, amarelo, branco, lilás e outras cores, as quais se matizam artisticamente entre si, fazendo ondulações com esplendorosas e fantásticas figuras causadas pela filtração dos óxidos e ferro, manganês e outras substâncias, as quais, com freqüência produzem nos granitos variedades de cores e uma formosura especial. A cidade inteira e seus arredores formam um imenso labirinto de montanhas e rochas, escavações, gargantas e vales estreitos, planícies e mesas, pequenos vales sombreados e alegres promontórios, tudo muito grandioso e belo. Aqui se tem justamente um ideal de beleza e proteção que pode satisfazer qualquer nômade oriental, como uma fortaleza de tráfico e comércio. Infelizmente, reina agora uma desolação dentro e ao redor de Petra, e por todos os lados, o que tem atestado tristemente as admoestações de Obadias.

VI - Ensinos - Não seria de esperar que um livro tão curto pudesse ensinar tantas lições de enorme valor. Podemos mencionar três:

1. A admoestação do profeta contra o escárnio (verso 12) - O escárnio se origina no orgulho. Quando zombamos dos outros, revelamos o espírito orgulhoso que existe em nós. O escárnio revela falta de amor fraternal e com freqüência pode evidenciar um verdadeiro ódio. Edom e Israel se menosprezavam e odiavam mutuamente em toda a sua história. Durante vários séculos a inimizade entre ambos foi implacável.

2. Sua doutrina da estrita retribuição - (Versos 10-15) - Obadias ensinou com ênfase especial o caráter indestrutível do juízo eterno. O “Dia do Senhor”, disse ele, virá sobre Edom: “Porventura não acontecerá naquele dia, diz o SENHOR, que farei perecer os sábios de Edom, e o entendimento do monte de Esaú? E os teus poderosos, ó Temã, estarão atemorizados, para que do monte de Esaú seja cada um exterminado pela matança” (Versos 8 e 9). E “Por causa da violência feita a teu irmão Jacó, cobrir-te-á a confusão, e serás exterminado para sempre ... Porque o dia do SENHOR está perto, sobre todos os gentios; como tu fizeste, assim se fará contigo; a tua recompensa voltará sobre a tua cabeça” (Versos 10,15).

3. Sua segura esperança de que há de chegar uma Era de Ouro para Israel: “Mas no monte Sião haverá livramento, e ele será santo; e os da casa de Jacó possuirão as suas herdades” (Verso 17).

Finalmente lemos no verso 21: “E subirão salvadores ao monte Sião, para julgarem o monte de Esaú; e o reino será do SENHOR”. Edom subjugada seria uma Edom incorporada. Essa promessa constitui o lado brilhante do “Dia do Senhor”, assinalando toda a consumação da história da humanidade. Aqui o profeta estende suas predições originais de catástrofe sobre Edom, incluindo escatologicamente “um juízo universal sobre todos os pagãos e a conseqüente restauração de Israel”. Esta é a palavra final, não só de Obadias, mas de toda a profecia bíblica. É realmente um vislumbre do reino messiânico, pelo qual ansiavam todos os profetas, sendo também uma interpretação da consciência de Israel.

Um comentário:

  1. Olá Pastor Esdras Cabral. Me chamo Cesar, sou componente do DVE - Departamento de Visitação e Evangelismo da 1° Igreja Presbiteriana em Rio Doce. Gostaria de saber como podemos entrar em contato com Vossa Senhoria, para que possamos, de maneira formal, realizarmos um convite. Abraços!!!

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